Machu Picchu – Explorando a cidade perdida
A segunda parte da nossa trip (a primeira você confere aqui) começa na estação de Aguas Calientes, também conhecida como Machu Picchu Pueblo. Desembarcamos do trem vindo de Ollantaytambo e um funcionário do hostel que havíamos reservado estava nos aguardando. Fomos com ele, a pé, até o Machu Picchu Land.
Sabíamos que era um local bem simples, já que havia sido escolhido mais pelo fator custo do que pelo benefício. Mas olha, vou confessar que achei bem pior do que havia imaginado. Tentei abstrair disso e focar na finalidade da viagem, mas era difícil. Até hoje não entendi a nota deles nos sites de avaliação, que não é ruim, se aproximando de 8.5.
Não daria nota 5 para o hostel. Era em um lugar estranho, bagunçado, cheio de puxadinhos. Até um pouco assustador, por assim dizer. Não curti mesmo e não recomendo para ninguém, mesmo com toda simpatia e boa vontade dos funcionários. De toda forma, não havia muito o que fazer, era o que tínhamos. Então achei melhor aceitar e usar isso como um aprendizado para a vida. Vou me lembrar disso toda vez que estiver procurando um hotel.
Passada a decepção com o hostel, fomos andar pela cidadela. Aguas Calientes fica bem aos pés de Machu Picchu, estrela máxima da região e queridinha do mundo. Passamos três noites na cidade porque decidimos subir às ruínas dois dias seguidos. Mesmo andando bastante pela vilinha, não consigo descrevê-la muito bem.
É bem pequena, com ruelas estreitas, sem carros ou outros veículos motorizados. Crianças e cachorros pelas ruas, como na maior parte do Peru. Casas sem terminar e um contraste muito grande entre a cultura dos moradores e o poder público. É possível perceber um interesse do Governo em enfeitar a cidadela: as pontes são muito bonitinhas, as ruas, praças e esculturas bem iluminadas e interessantes. Por outro lado, as poucas casas e os inúmeros hotéis são quase todos inacabados, há entulhos amontoados em diversos lugares e não parece haver esforço da população para tornar a cidade mais bonita.
Ainda assim, por incrível que pareça, não dá simplesmente para dizer que a cidade é feia. Só me vem à mente que ela é peculiar. Porque é uma cidadinha escondida no meio de um vale, como se a sombra das montanhas a protegesse (ou camuflasse). Por mais de uma vez me deparei olhando as montanhas ao redor, sem acreditar que elas realmente estavam ali. Estava mesmo me sentindo em Pandora.
Nosso primeiro almoço em Aguas Calientes foi no restaurante Mapacho Craft Beer & Peruvian Cuisine. O lugar é muito bem avaliado e faz jus à fama. As cervejas estavam boas e a comida estava excelente, isso sem contar a vista do restaurante, impressionante.
Depois do almoço passamos em um supermercado para comprar lanchinhos e voltamos para o hostel para arrumarmos as coisas para a caminhada do dia seguinte.
Quando planejamos nossa visita a Machu Picchu, descobrimos que é possível combinar a visita à cidade sagrada com algumas atividades. Os mais dispostos podem fazer a famosa (e longa) trilha inca e chegar caminhando de modo triunfal às ruínas.
Os não dispostos fisicamente (ou com pouco tempo) podem comprar o ingresso que permite apenas a visita à cidade, em um percurso já demarcado, em que você desce de um ônibus nos portões do parque e caminha por algumas horas entre ruínas e escadarias encravadas na montanha.
Há também uma terceira opção, onde você pode combinar a visita com a subida a uma das duas principais montanhas que emolduram as ruínas, Machu Picchu e Huayna Picchu (também conhecida como Wayna Picchu). Nessa opção é preciso comprar um ingresso combinado, com horário marcado para iniciar a subida. Após a visita à montanha, o visitante pode sair da área do parque, para comer ou utilizar os banheiros (que não existem após os portões) e reentrar para visitar as ruínas.
Nós escolhemos conhecer, além da famosa cidade sagrada, o topo das duas montanhas. Por isso compramos ingressos combinados para dois dias seguidos. Um ponto importante é que, se você quiser subir as montanhas, precisa comprar os ingressos com bastante antecedência, por meio do site oficial mantido pelo governo peruano.
Outra decisão que deve ser tomada é a forma como você quer chegar e partir do portão do parque. Isso porque a entrada para as ruínas é um pouco distante de Aguas Calientes, podendo ser alcançada por uma escadaria imensa ou por um ônibus, cujo bilhete não é barato.
Depois de ler alguns relatos e já ter experimentado os efeitos da altitude, achamos melhor fazer o percurso de ônibus. Para o primeiro dia, havíamos comprado o ingresso para entrar no parque na primeira hora, então tínhamos que pegar o ônibus bem cedinho. Só para ter uma ideia, chegamos no ponto por volta das cinco da manhã e já tinha uma fila considerável.
Em poucos minutos, porém, a fila se dissipou, porque a primeira leva de ônibus chega praticamente junto. A subida até Machu Picchu demorou uns vinte minutos. Estava escuro quando saímos, então não deu para ver a paisagem. Só quando já estávamos mais no alto é que foi possível ver os vales e as curvas da estrada que leva ao topo, onde estão as ruínas.
Chegamos lá antes dos portões abrirem, como estava planejado. Nesse dia, subiríamos a Montanha Huayna Picchu. A trilha tinha horário marcado para o início, que necessariamente, tinha que ocorrer das sete as oito da manhã. Por isso, mesmo com vontade de parar e fotografar cada pedrinha, passamos rapidamente pela cidade e fomos até o início do percurso.
Chegando lá, esperamos uns minutinhos para o portão da trilha abrir e, ansiosos e deslumbrados, começamos a subida. O caminho é íngreme, com muitas escadas de pedras. Apesar de ter lido em alguns lugares que a vista a partir da trilha não seria tão bonita, achei maravilhosa, principalmente porque foi possível ver a cidade sendo iluminada pelo sol da manhã. Foi uma trilha tranquila, com grau de dificuldade leve a moderada.
Fomos parando bastante no caminho para tirar fotos e curtir o lugar. Terminamos por volta do meio dia. Saímos do parque, fizemos um lanchinho do lado de fora e voltamos para conhecer a cidade em si.
Não sei se por causa da multidão de turistas, pelos guardas bem chatos e pelas regras meio sem sentido, mas a cidade em si não me agradou tanto quanto a vista dela e o percurso na trilha. Andamos um pouco por lá e, quando estávamos cansados, resolvemos retornar para Aguas Calientes.
Era mais ou menos umas três e meia da tarde. A fila para pegar o ônibus estava assustadoramente grande. Estávamos aguardando na fila há quase uma hora e ainda tivemos o azar de ter que lidar com um grupo de espertinhos que cortou fila, bem na nossa frente. Eu, nessa caminhada para tentar me tornar um ser humano mais evoluído, falhei miseravelmente. Devia ter ignorado e seguido a vida, mas quase saí no tapa com uma velhinha.
Alguns minutos depois, todos estávamos no ônibus, sem maiores intercorrências. Chegando à cidadela, fomos para o hostel e descansamos um pouco. À noite jantamos em outro restaurante bem avaliado, o Full House. Achei bem ruim, se comparado com o Mapacho, mas tínhamos que ir para comparar. Ao menos a música estava agradável.
No outro dia, o nosso ingresso para as ruínas era para mais tarde, então não foi preciso acordar de madrugada. Fomos para o ponto de ônibus por volta das seis e meia e, depois de alguns minutos, demos início à subida. Como o dia já estava claro, foi possível ver todo o percurso até o topo, realmente indescritível.
Nosso segundo dia, assim como o anterior, englobava a cidade e uma montanha. Desta vez íamos subir a Montanha Machu Picchu. Estávamos tranquilos achando que seria bem mais fácil que a montanha Huayna Picchu, mas nos enganamos completamente.
O fato é que a subida da montanha Machu Picchu não termina nunca. Ela é mais alta e bem mais longa que a vizinha, e as escadas não acabam. Parece que quanto mais degraus você sobe, mais surgem. Tive muita dificuldade para subir. A cada 100, 200 metros eu dava uma paradinha. Ainda assim, com muita persistência, subimos. A vista é bem bonita, da cidade com a Huayna Picchu ao fundo. É dali a foto clássica que você vê quando pesquisa sobre Machu Picchu. Mas se eu precisasse escolher uma das duas montanhas para subir, escolheria a Huayna Picchu sem dúvida alguma.
Vencida a etapa da subida, era hora de descer todos aqueles degraus. Haja joelho nessas horas. Aos trancos e barrancos, sobrevivemos à descida. Ainda andamos mais um pouco pela cidade, já lotada ao extremo naquele horários e saímos por volta das três da tarde. Tínhamos direito a entrar mais uma vez, por conta da combinação com a montanha, mas já havia visto o suficiente.
Desta vez a fila para a volta estava bem pequena, então rapidinho pegamos o ônibus e descemos. Descansamos um pouco no Hotel, andamos pelas imediações e à noite fomos novamente ao Mapacho, para uma despedida em grande estilo. Mais uma vez o restaurante não decepcionou. Estava tudo maravilhoso.
No outro dia, por volta das 11 horas saímos de Aguas Calientes com destino a Cusco. Havíamos comprado o bilhete chamado Bimodal, em que parte da viagem era de trem e a outra de ônibus. Fomos em um trem bem confortável, com janelas bem grandes, até Ollanta. Lá entramos em um micro-ônibus bem desconfortável e fomos até Cusco.
Chegamos lá bem cansados e fomos direto até o Milhouse deixar nossas coisas e fazer o check in novamente. Desta vez nos alocaram nos quartos que ficam no prédio do Hostel mesmo. Bem diferentes dos quartos do anexo, esses eram bem simpáticos.
Deixamos as coisas e fomos até o Deli Monastério, onde fizemos um lanchinho bem gostoso. Aliás, chamar esse sanduiche aí da foto de “lanchinho” é até pecado. Encerrada a sessão de comilança, fomos andar mais um pouco pela cidade. O que era para ser uma voltinha rápida acabou se estendendo e encerramos nossa tarde caminhando por Cusco.
Chegamos ao Hostel, descansamos um pouquinho e à noite fomos jantar na República Del Pisco. Um lugar lindo, que mistura os conceitos de bar e restaurante. As bebidas eram bem diferentes e muito boas. As comidas então, perfeitas! Saímos de lá e voltamos para o hostel.
A nossa ideia inicial quando estávamos planejando a viagem era aproveitar o dia seguinte ao retorno para Cusco para fazer uma trilha até a laguna Humantay. Uma trilha difícil, que leva a um lugar lindo. Ocorre que, considerando que não havíamos conseguido passear por Cusco como gostaríamos, achamos por bem deixar a trilha para outra ocasião e passar nosso último dia em Cusco conhecendo a cidade com mais calma.
Assim fizemos. No dia 28/07 acordamos mais tarde um pouco e fomos até a Plaza de Armas. Dali, passamos pelas igrejas, arcos e praças. Aproveitamos também para comprar as últimas lembrancinhas da viagem e curtir a praça de modo mais tranquilo, pois nas visitas anteriores o local estava sendo palco de diversos eventos culturais.
Chegamos ao Mercado San Pedro ainda de manhã. Passamos um bom tempo por lá, vendo as peças em lã, artesanatos em geral e, principalmente, os temperos maravilhosos.
O Mercado é um lugar que, apesar de estar sendo invadido por barracas de artigos turísticos, ainda é bem autêntico. Isso tem um lado muito bom e um lado ruim. Isto porque a maneira dos peruanos de se relacionar com alimentação é um tanto diferente. No mercado, por exemplo, havia muitas barracas de carnes e outros produtos de origem animal sem qualquer tipo de refrigeração, com questionáveis padrões de higiene.
Por outro lado, as frutas, os infinitos tipos de milho e temperos eram de encher os olhos. Na minha avaliação, é uma visita que vale muito a pena, principalmente para quem gosta de gastronomia e é curioso. Nada diz mais sobre um povo do que um mercado municipal.
Saímos do Mercado e fomos até o restaurante Morena Peruvian Kitchen. Tivemos uma excelente experiência gastronômica, que começou antes mesmo dos pratos chegarem à mesa. É que a cozinha do restaurante é totalmente aberta, de modo que é possível acompanhar a execução nos mínimos detalhes. Depois de nos deliciarmos com o preparo das refeições, nossas escolhas chegaram. Pedimos um rocoto relleno, uma massa e uma sobremesa impactante.
De lá, voltamos para o hostel, descansamos um pouco e já saímos para andar novamente. Fomos em algumas lojas de artesanato, fizemos umas comprinhas e paramos para um lanchinho no Museu do café, que é mais bonito do que divertido. Por incrível que pareça, o café não era o forte deles.
Como era dia da independência do Peru, o bar do Hostel estava super animado no nosso jantar, com apresentação de música e bebidas especiais, muitas delas como cortesias. Ficamos por lá um bom tempo e depois demos uma descansada rápida, afinal na madrugada tínhamos que estar no aeroporto.
Enquanto esperávamos o voo, eu pensava em como seria essa minha descrição da viagem. Ainda tinha em mim um misto de sentimentos. Não sabia exatamente qual minha, mas já estava certa de uma coisa: A “magia” de Machu Picchu eu encontrei no caminho e não no destino. Posso dizer, sem dúvida alguma, que, para mim, a experiencia de Ollantaytambo, Maras, Pizac e Chinchero foram muito mais marcantes.
Não que Machu Picchu não seja interessante. Ao contrário, é impressionante. Mas é que enquanto todas as luzes estão sobre a Cidade Perdida, meus olhos olham os olhos das crianças nos mercados de lã, meus ouvidos se deliciam com as histórias de vida, com o trabalho duro e com o som das risadas pelas ruas. Sou dessas que procura o que as pessoas ignoram, que, definitivamente, se encanta com as pequenas coisas.
Viajar envolve muito mais que cumprir um roteiro e fotografar todos os pontos turísticos de uma cidade, por mais bonitos que sejam. Está muito mais ligado a conhecer as pessoas e se conhecer. Entender o nosso lugar no mundo, respeitar as diferenças e aprender com a cultura e a vida de cada nação.
Nossos dias pelo Vale Sagrado proporcionaram uma revisitação às aulas de história e um entendimento muito grande quanto às lutas de um povo extremamente acolhedor. Somos, de fato, uma parte bem pequena de algo muito maior, que vai além do nosso quintal. A riqueza da cultura Inca e do povo do Vale Sagrado o tornam, de fato, um lugar absolutamente mágico e único.