As maravilhas de Sevilha
Saímos da simpática e pacata Córdoba e seguimos para uma das maiores cidades da Espanha, Sevilha. Tamanha a gama de coisas a fazer, que dedicamos três dias a ela, sempre seguindo aquela linha de conhecer sem pressa, aproveitando cada detalhe.
Chegamos a Sevilha no meio da tarde e fomos direto da estação até o hotel. Podíamos ir de ônibus ou de taxi? Claro que sim. Foi isso que fizemos? Óbvio que não.
Mais uma vez decidimos que o caminho era suficientemente curto e que poderíamos já fazer uma caminhada pela city. Pela primeira vez nesta viagem, acho que não foi a escolha mais acertada. Na hora parecia fazer sentido. Mas, olhando agora, vejo que poderíamos ter ido de ônibus. É que o caminho parecia mais fácil quando visto através do mapa. Na vida real, degraus, piso desnivelado e alguns obstáculos dificultavam o trajeto com as malas.
De todo modo, depois de uma caminhada de mais ou menos 20 minutos, chegamos ao hotel que havíamos reservado pelo Booking. O escolhido da vez foi o Hotel Fernando III, um hotel bonito, muito bem localizado e extremamente confortável. Fizemos check in, deixamos as malas e já saímos em busca de almoço.
Para nossa sorte, praticamente na frente do hotel há uma espécie de praça com diversos restaurantes. Fizemos algumas pesquisas rápidas pelo aplicativo do TripAdvisor (um dos meus guias para não cair em roubadas) e vimos que um dos restaurantes nas imediações era muito bem avaliado, o El Pasaje.
Assim, sem hesitar, fomos até lá. Estava bem cheio, mas depois de uns 10 minutos conseguimos uma mesa na calçada. Apesar do frio, a espera valeu à pena, pois a comida estava simplesmente sensacional. Eu pedi apenas algumas tapas com mini hambúrgueres, que estavam uma delícia. O Fellipe pediu um risoto de cogumelos com trufas negras, que estava espetacular. Ao invés de harmonizar a refeição com vinho, optamos por pedir cervejas. Estavam excelentes e combinaram muito com o clima descontraído do local. Encerrada a refeição, voltamos para o hotel e fomos descansar um pouco.
À noitinha, saímos para passear pelas imediações e esticamos nossa caminhada até a Plaza de La Encarnación, onde fica a famosa escultura de madeira apelidada de Setas de Sevilha. O monumento, cujo nome de batismo é Metropol Parasol, deveria se assemelhar a um guarda-chuva. Contudo, ficou muito mais parecido com um cogumelo gigante, daí o nome Setas, que quer dizer cogumelos em espanhol. De fato, ele é enorme, difícil até de ser fotografado por inteiro. À noite estava especialmente bonito, com luzes coloridas.
A subida ao primeiro piso do monumento é aberta e gratuita, inclusive funciona como uma área de recreação bem diversificada, com crianças e adultos brincando e descansando. Há um passeio pago para subir até o topo, mas achamos que não valia muito à pena, principalmente à noite. Na parte de baixo do monumento, assim como no entorno dele, há diversos bares e restaurantes, tornando o local bastante movimentando e animado.
Na época em que fomos à Sevilha, a cidade estava bem movimentada, talvez pela proximidade das festas de fim de ano. Havia muitos turistas, mas também muitas famílias levando os filhos para passear e ver as luzes de Natal. Já deve ter ficado claro nos posts anteriores do blog: se tem uma coisa que me encanta são luzes coloridas. Não preciso nem falar da minha alegria com a decoração de natal de Sevilha não é?
Bom, depois de um tempo passeando, fomos tomando o caminho de volta para o hotel. Para jantar, escolhemos outro restaurante nas proximidades, desta vez o Altara, que também se revelou uma excelente opção. Para nossa noite ser absolutamente impecável, fomos de tapas e vinho, com destaque para as croquetas de jamóm (as melhores da viagem). Quer combinação mais espanhola?
No outro dia, começamos nosso passeio pelo Real Alcazar de Sevilha. É uma construção magnífica, muito bem preservada e que, ainda hoje, é uma das residências oficiais da Família Real Espanhola. Diferentemente de outras construções históricas que visitamos, o Real Alcazar é composto por um conjunto de prédios de épocas e estilos diversos.
A visita ao Alcazar segue um certo roteiro, então vale a pena seguir os mapas espalhados pelo local ou usar o disponível no site. Isto é importante porque algumas das áreas têm sentido único de visitação. Uma dica é fazer toda a parte interna e terminar a visita pelos jardins.
Confesso que é um daqueles lugares com muita informação, bastante exagerado em todos os sentidos. Dá até um pouco de agonia, porque é tanto detalhe, tanta cor, que em certos momentos a cabeça dá um nó. O fato é que havia uma construção no local antes da reconquista e, depois disso, ela foi sendo ampliada, por assim dizer. Da época islâmica, o que ficou mais preservado foi um dos pátios, o Pátio de Gesso, que pode ser visto à partir da Sala de La Justicia.
Uma visita ao Alcazar não poderia ser completa sem um tempo dedicado aos jardins, que são tão emblemáticos quanto as construções palacianas. Eles são compostos por vários ambientes, contando com pátios, extensa área de gramado, palmeiras e outras árvores, bem como um simpático laranjal. Isso sem contar as fontes espalhadas por toda a área, merecendo destaque a fonte de Mercúrio.
Outro ponto que não dá para ignorar é a Galeria de Los Grutescos, uma passagem elevada que vai da Fonte de Mercúrio até o Jardim do Labirinto. Além de ter uma linda vista por cima dos laranjais, esta verdadeira muralha divide o jardim em duas partes, podendo ser acessada através de discretas escadas nas extremidades da passarela.
Além disso, há uma zona subterrânea onde estão os Baños de Maria de Padilla, idealizados para manter temperaturas mais amenas durante o período mais quente do ano e onde é feita uma das fotos mais famosas do Alcazar. O local, como vários outros do Alcazar, foi utilizado como cenário pela série Game of Thrones.
Depois de algumas horas, encerramos a nossa visita ao Alcazar e seguimos, a pé, até as margens do rio Guadalquivir, que corta a cidade e está ladeado por praças, bosques e excelentes espaços para caminhadas e prática de outros esportes. Durante nossa caminhada, fomos a um supermercado e compramos alguns lanchinhos. Sentamos em um banco e por lá mesmo fizemos nosso piquenique. Aproveitamos que estávamos pertinho e já fomos até a Tore Del Oro para tirar algumas fotos.
Passamos também na frente da Plaza de Toros, mas não entramos. O prédio é bem bonito por fora e rendeu boas fotos. Confesso, contudo, que para mim essa questão das touradas é um ponto muito fraco da Espanha. Bem por isso, não tive a menor vontade de visitar uma arena dessas.
Seguindo nosso passeio, passamos rapidamente pelo Mercado Lonja del Barranco, que conta com diversos restaurantes simpáticos e estava bem movimentado. Optamos por não comer lá porque eu queria ir até outro mercado gastronômico, o de Triana. Infelizmente não tivemos sorte. Atravessamos a ponte sobre o Rio Guadalquivir e chegamos ao mercado, mas estava tudo fechando.
Com isso, seguimos em direção à Torre Sevilha, onde há um Centro Comercial que queríamos visitar. Não era exatamente perto, mas a caminhada foi agradável. O Centro é enorme, com hotel, mirante e um shopping center bem grande. Chegamos lá, passeamos em algumas lojas, descansamos um pouco e voltamos de ônibus para o hotel.
No outro dia, nosso roteiro começou com uma visita à Catedral de Sevilha, umas das maiores do mundo. Ela é realmente gigantesca, em estilo predominantemente gótico, com uma riqueza de detalhes impressionante. Ficamos mais de duas horas por lá e certamente deixamos alguma coisa de fora, pois são tantas salinhas e corredores labirínticos que é impossível ver tudo. Entre outras atrações famosas, a Catedral possui um gigantesco órgão e os restos mortais de Cristóvão Colombo.
Além de passear pela Catedral em si, visitamos a Torre da Giralda, que atualmente funciona como campanário, mas que na época mulçumana funcionava como um minarete. A Torre é bem alta, tem mais de 100 metros, e pode ser acessada através de rampas intermináveis. Confesso que a subida é bem extenuante, mas vale a pena. Uma dica é não deixar de fazer paradas estratégicas pelo caminho, pois há diversas janelinhas na torre, que possibilitam vistas muito bonitas, em especial dos telhados da Catedral.
Encerrada a visita à Catedral, fomos até a Plaza Espanha. Não se enganem, essa não é simplesmente uma praça. É uma construção gigantesca no meio do Parque Maria Luiza, que é igualmente enorme. A construção é em formato de meia lua, com torres, fachadas e colunas imponentes, que mesclam elementos de arquitetura renascentista e mudéjar. Como se não bastasse, ainda há um canal de água com peixes coloridos, fontes e pontes lindíssimas. E barcos para que os turistas possam remar pelo canal.
Confesso que fiquei me perguntando a razão para a construção de um local tão grande, que estava praticamente vazio no dia em que fomos. Durante minhas pesquisas, descobri que a praça foi construída para a Exposição Ibero Americana de 1929, como forma de sinalizar a ligação da Espanha com a ex-colônias.
Depois de passear pela praça, fomos andar pelo bairro à procura de um supermercado, já que os restaurantes estavam fechados ou fechando. Aliás, o comércio estava todo fechado para a siesta. Depois de alguma caminhada, encontramos um mercadinho e conseguimos comprar alguns lanches. Então, fizemos nosso lanchinho e fomos andar pelo parque. Passamos pelo local chamado Ilha das Aves, onde há uma vasta gama de pássaros, em especial patos e até cisnes. Continuamos seguindo até chegar ao fim do parque, de onde retornamos para o hotel.
Aproveitamos o restinho de tarde livre para lavar roupa em uma lavanderia praticamente em frente ao hotel. Enquanto a roupa lavava, fomos até uma doceria e compramos algumas guloseimas.
À noite, para nos despedir de Sevilha, voltamos ao restaurante Altara, onde pedimos patatas bravas e outras tapas. Tudo acompanhado por vinho e uma sobremesa excelente, porque se tem uma coisa que eu levo à sério é comida.
No outro dia, saímos cedo com destino à estação de trem, onde pegamos o carro que havíamos reservado antes através da Europcar. Tudo transcorreu tranquilamente e por volta das dez da manhã saímos com destino à Jerez de La Frontera. Pelo retrovisor, fomos vendo as últimas imagens da arrebatadora Sevilha, uma cidade para ser vivida com tranquilidade e intensidade.
Mais uma etapa da nossa viagem chegava ao fim e outra, igualmente empolgante, estava prestes a começar. Dali em diante descobriríamos, de carro, os lugares mais pitorescos e encantadores da Andaluzia. Nossa jornada pelos Pueblos Blancos estava prestes a começar!
Que texto e que fotografias, lindo demais!! Como eu amo tudo isso!! ❤️