Minas Gerais: Ouro Preto
Promessa feita é promessa cumprida. Seguindo com os posts sobre Minas Gerais, a estrela da vez é a histórica Ouro Preto.

Mas afinal, por que ir a Ouro Preto? Não consigo pensar em outra forma de começar essa explicação senão com essa pergunta, que eu mesma me fiz várias vezes.
Em resposta, posso dizer que Ouro Preto não é apenas uma cidade histórica com um grande número de igrejas e casarios antigos, mas verdadeira expressão dos estilos de arte Barroco e Rococó. Tanto que os maiores nomes relacionados aos projetos e execuções de obras nesses estilos deixaram suas marcas em Ouro Preto, em edifícios muito bem preservados.

Cheios de expectativa (e eu me sentindo especialista em arte depois de uma breve pesquisa no google), saímos de Belo Horizonte, com um carro alugado, em uma simpática manhã de junho com destino a Ouro Preto.
Apesar de a distância entre Belo Horizonte e Ouro Preto não ser grande, cerca de 100 km, o trajeto é bem demorado. As estradas não são lá essas coisas, o tráfego de caminhões é grande e a viagem não rende.
Mesmo tendo saído cedo de Belo Horizonte, chegamos em Ouro Preto já perto das onze da manhã. Fomos direto para a pousada Casa do Pilar, reservada antes pelo booking.
Chegando lá, arrumamos um espacinho na rua para deixar o carro e fomos caminhando, ladeira abaixo, até a pousada. Ela tem apenas uma placa bem discreta e fica bem no meio da ladeira. Chegamos, tocamos a campainha e logo fomos atendidos por uma senhora que disse ser a mãe do responsável pelo local.
Com aquela simpatia típica dos mineiros, ela disse que o filho, Bernardo, havia saído, mas que nosso quarto já estava pronto e já poderíamos entrar. Pegamos nossas malas e fomos até o quarto. O local é simples, mas muito limpo e confortável. É uma casa antiga transformada em pousada, então mantém muitas das características originais.





O quarto em que ficamos era bem amplo e aconchegante. Contava com uma divisão, como se fossem dois cômodos, além do banheiro. Eu fiquei absolutamente encantada com a riqueza de detalhes, em especial com a mesa na janela. Aliás, por falar em janela, a vista de lá era incrível.
Assim que deixamos as coisas no local saímos para almoçar e, seguindo as dicas recebidas da anfitriã, fomos, à pé, até o restaurante O Passo. O local é muito bonito, tem uma vista bem legal e a comida estava uma delícia.




Depois do almoço já começamos nosso tour pelas igrejas e museus de Ouro Preto. Aliás, para quem está pensando no que fazer em Ouro Preto, é bom já estar preparado para algumas verdades incontestáveis: a cidade é um museu a céu aberto e tem muitas, mas muitas, ladeiras.
Nós já havíamos listado anteriormente os locais que queríamos visitar, até para não acabar perdendo o foco durante os passeios. São inúmeras igrejas e prédios antigos (só igrejas históricas são mais de 20), então é muito importante traçar um roteiro e escolher os lugares que pretende visitar.



Além disso, as igrejas e prédios históricos não são abertos à visitação nos mesmos dias da semana. Por isso, não deixe de checar no Google Maps ou com alguém na sua hospedagem os dias de funcionamento e abertura ao público de cada atração.
Lógico que durante as andanças surgem alguns outros locais de interesse e sempre há margem para alterações. Mas sem um planejamento prévio, mesmo que mínimo, a viagem pode acabar ficando meio comprometida.
Com isso em mente, já colocamos em prática nossos planos e partimos em direção ao Museu da Inconfidência, bem na Praça Tiradentes. Ele é enorme, muito interessante e fica em uma parte mais alta da cidade. Logo, para chegar até ele, ainda mais partindo do local onde estávamos, já foi uma bela subida.




Saímos do museu e fomos andar pelos arredores, já passando por algumas das igrejas que estavam na nossa lista: Igreja Nossa Senhora do Carmo, Igreja São Francisco de Assis e Igreja Nossa Senhora das Mercês.


Dessas, entramos e ficamos mais tempo na Igreja São Francisco. Ela é um verdadeiro ícone da arte colonial, com projetos de Antônio Francisco Lisboa, o famoso Aleijadinho, que elaborou o projeto da fachada e executou pessoalmente grande parte dos relevos. Além disso, também há trabalhos do pintor Mestre Ataíde, um dos maiores nomes da pintura colonial, sendo ele o responsável pela decoração do teto da nave.



Falando especificamente do teto da igreja, é impossível não ficar boquiaberto com a riqueza de detalhes, especialmente com a figura central de Nossa Senhora rodeada por anjos. O arranjo de cores, azul bem claro com tons de vermelho alaranjado, chamam atenção logo de cara, diferindo bastante do que se vê em outras pinturas sacras. Diante disso tudo, sem dúvida a Igreja são Francisco de Assis precisa estar no roteiro de quem vai visitar Ouro Preto.
Encerrado o passeio, paramos em uma simpática sorveteria chamada Giuseppe Gelato Artesal, compramos um sorvete delicioso e continuamos a caminhada. Algum tempo depois, fomos até o Café da Escadinha, onde provamos pão de queijo, biscoitinhos e, claro, um café. O café tem uma vista incrível da cidade. Mas as mesas com vista estavam todas ocupadas. De lá, voltamos para a pousada para descansar um pouquinho, já que a caminhada havia sido puxada.


Assim que entramos na pousada, fomos recepcionados pelo famoso Bernardo, sempre muito elogiado nas avaliações que havíamos lido antes de escolher nossa opção de hospedagem. Aliás, uma das razões para nossa escolha pela Casa do Pilar foi justamente a avaliação positiva em relação aos anfitriões e à Geninha, que ajuda nos cuidados da pousada.
Posso dizer que Bernardo faz jus à fama. Em poucos minutos de conversa já deu pra perceber que, de fato, ele é uma pessoa muito solícita e amável. Durante o bate papo, ele nos deu mais algumas dicas de passeios e restaurantes, inclusive em cidades dos arredores.
À noite, fomos jantar no Gastro Pub Varanda 1921, indicação do Bernardo. Fomos à pé mesmo, pois não ficava muito longe. Aproveitamos a caminhada para ir conhecendo algumas outras ruas à noite. Inclusive, passamos nas proximidades da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e já aproveitamos para tirar algumas fotos da fachada.


As ruas de Ouro Preto, à noite ou durante o dia, são muito charmosas, então, não se deixe amedrontar pelas ladeiras. Não há forma melhor de conhecer um local senão caminhando por ele. De fato, foi um passeio muito agradável e o restaurante foi uma experiência incrível. Além de o lugar ser lindo, a comida e as bebidas estavam perfeitas.



No outro dia, depois de aproveitar o café da manhã da pousada, conhecer a Geninha e bater aquele papo, retomamos nosso roteiro.
Começamos pela Igreja Nossa Senhora do Pilar, a qual, na minha avaliação, é a mais luxuosa de Ouro Preto, por assim dizer. Era a igreja da classe mais abastada, então foi a que teve a construção mais rápida e a que contou com mais ouro na decoração. De fato, o altar principal e os altares laterais são bastante opulentos.



Saindo da igreja, fomos ao parque Horto dos Contos e, mais uma vez seguindo as dicas do Bernardo, subimos à parte alta da cidade pela trilha arborizada, olhando as casas históricas por outro ângulo. A trilha corta uma boa parte da cidade, mas seguimos apenas a parte mais visitada, que vai até a entrada da Casa dos Contos.


A Casa dos Contos foi construída entre 1782 e 1784 e abrigou diversos órgãos da administração, em especial a Casa de Fundição e da Moeda, daí o nome Casa dos Contos, em referência aos contos de réis.
É um edifício histórico bastante preservado e tem exibições de diversas peças importantes relacionadas à Inconfidência Mineira e fatos importantes que ocorreram na cidade e região.


Fizemos o passeio pela Casa-Museu e seguimos para o santuário Nossa Senhora da Conceição, cuja capela inicial, segundo informações locais, data de 1699. A igreja, em si, foi construída em 1727 e conta com diversas obras de Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho. Inclusive, dizem que Aleijadinho está sepultado no local.



Uma curiosidade sobre as igrejas mais antigas, que acredito ser comum a grande parte delas, é que os fiéis (especialmente os que tinham mais posses) eram enterrados debaixo da construção. Então, abaixo dos assoalhos, estão túmulos de diversas pessoas.
Encerrada a visita à igreja, fomos ao restaurante Chafariz para almoçar. O lugar é muito interessante, um misto de casa de vó, museu e restaurante. Nas paredes, fotos da família, em geral em preto e branco. Junto ao emaranhado de fotos, louças antigas delicadamente pintadas e prateleiras no estilo cristaleiras cheias de vinhos e cachaças.
O lugar já valeria uma visita só pelo ambiente, mas o ponto alto é mesmo a comida. Pedimos um picadinho e uma massa com lombo de porco. Estava muito bom. Para fechar com chave de ouro, experimentamos o bolo morno de doce de leite, uma “coisa assim sei lá” de tão bom.




Saímos de lá, andamos um pouco pelas ruas fotogênicas da cidade e fomos tomar um café no Café Rena. A proposta é boa e o local é bonito, mas esperávamos mais do café.
De lá, seguimos até a feirinha na praça da igreja São Francisco de Assis, que vende de tudo um pouco, principalmente artigos em pedra sabão, como imagens sacras, objetos de decoração e até fontes para água.




Compramos algumas lembrancinhas e fomos até a Igreja Nossa Senhora do Carmo, projetada pelo pai de Aleijadinho. A Igreja conta com uma fachada muito bonita, mas o destaque mesmo fica por conta do altar principal, desenhado e com pinturas do mestre Ataíde. No entanto, a igreja não estava aberta à visitação naquele dia.

Em seguida, voltamos para o hotel, fizemos uma horinha e já saímos novamente, pois ainda havia uma igreja para visitar: a Igreja do Rosário.
Chegamos nela depois de mais uma “caminhadinha leve”, mas, para nossa tristeza, naquele dia, a igreja estava fechada. Ainda assim, a visita foi bacana, pois conseguimos olhar com calma os detalhes da fachada e o peculiar formato arredondado da construção. Na noite anterior já havíamos passado por ali, então também conseguimos ver sua fachada iluminada no período noturno.


Outra coisa que fez o passeio valer à pena é que praticamente ao lado da igreja, há uma cafeteria muito simpática chamada O Único Lugar do Mundo. Tomamos um ótimo café e experimentamos um bolo de milho delicioso. Recomendo demais a visita, pela comida e pelo ambiente, que é bastante despojado e aconchegante.


À noite, acabamos caindo na cilada do dia dos namorados. Eu e Fellipe temos um protocolo para o dia dos namorados que envolve ficar em casa e evitar as roubadas dos jantares especiais e etc. Isso porque, em geral, os restaurantes e bares estão lotados e os preços costumam ser muito mais altos que o normal. Mas estávamos viajando, ficar em casa não era uma opção.
Assim, sem ter o que fazer, tivemos que sair em busca de um lugar para jantar. A maior parte dos restaurantes tinha programação especial para a data e muitos já estavam com os lugares esgotados.
Nos sobrou jantar no local chamado Calabouço. Não vou me alongar muito na descrição, mas se querem um conselho, escolham outro local. Se não tiver jeito, encarem sabendo que não vai ser nada extraordinário. Apesar de a comida ter sido bem apresentada, o sabor não estava lá essas coisas. Ainda assim, aproveitamos as cervejas e a música ao vivo, que estava boa.



No outro dia, chegou o fatídico momento de dizer adeus à cidade e à pousada que tanto nos acolheu. Ficamos batendo papo com o Bernardo e com a Geninha, que não apenas ajuda o Bernardo a cuidar da pousada, mas recebe os hóspedes como se fossem visitas em sua casa.
A vontade era esticar a estada e ficar por lá com eles por mais tempo. A conversa era tão boa que parecia que eram antigos conhecidos. Ainda assim, já tínhamos destino certo para o dia seguinte, então nos despedimos como quem diz até logo a alguns amigos e seguimos viagem.
Sem dúvida, um passeio por Ouro Preto agrega conhecimento e boas lembranças. É uma cidade acolhedora e, apesar das ladeiras, muito agradável. Vale muito à pena, principalmente para quem gosta de história e quer entender mais sobre os primórdios da construção do nosso país.
