Patagônia Argentina – Conhecendo Ushuaia, El Calafate e El Chaltén

Desde que viajar se tornou algo possível na minha vida, sempre tive o desejo de visitar a Patagônia. Não sei bem explicar de onde surgiu essa vontade, mas talvez decorra da minha inquietude constante. Desse desejo louco de desbravar o mundo e de me ver tão pequena diante de tantas coisas que existem por aí.

Mesmo sem entender as razões lógicas para as escolhas dos destinos de viagem, a Patagônia sempre foi uma certeza pra mim. Assim, em maio de 2016 começamos os preparativos de mais essa aventura.

Antes de dar início ao planejamento efetivo, optei por me conectar às estórias locais, à cultura e ao olhar de aventureiros sobre a região. Nessa preparação, li um livro muito bacana chamado “Transpatagônia – Pumas não comem Ciclistas”, de Guilherme Cavallari, que trata de uma viagem de bike pela Patagônia. O livro é inspirador e eu recomendo demais.

Depois das primeiras leituras a viagem começou a ganhar forma. Compramos as passagens (pela Aerolíneas Argentinas), reservamos Hotéis, escolhemos os passeios e, no mês de setembro, quando ainda é considerada temporada de inverno, saímos de São Paulo com destino a Ushuaia, a cidade mais austral do planeta.

Chegamos em Buenos Aires no dia 07 de setembro e ficamos por lá até o dia seguinte num stop over. O curto período na capital argentina foi aproveitado ao máximo com passeios pelo centro e, é claro, um excelente jantar no pitoresco Parrilha Penã. Ficamos hospedados no Ibis Obelisco, que se apresentou como uma ótima opção para a curta estada, principalmente porquê já tínhamos passado algum tempo na cidade em uma viagem anterior.

Saímos de Buenos Aires de manhã, também pela Aerolíneas, rumo a Ushuaia, na região da Terra do Fogo. Antes mesmo de aterrissar já era possível prever o que estava por vir. A imagem vista do avião quando se está perto do pouso é surpreendente. O Pouso foi tranquilo e o aeroporto é lindo, com detalhes de madeira que o fazem parecer um chalé.

Havíamos alugado um apartamento em Ushuaia pelo Airbnb e nossa anfitriã, Maria, amavelmente, foi nos buscar no aeroporto. No caminho foi nos contando sobre a cidade e dando ótimas dicas acerca de passeios. O apartamento era uma graça. Exatamente como nas fotos. Extremamente limpo, bem organizado e super bem localizado, com uma vista linda.

Chegamos, deixamos as coisas no apartamento, colocamos nossas roupas quentinhas e fomos passear pela cidade. Estava tão eufórica que mal conseguia me conter. Para completar minha alegria, que já era desmedida, num piscar de olhos, enquanto caminhávamos por uma praça, começou a nevar. Já tinha visto neve branquinha no chão, mas essa foi a primeira vez que vi neve caindo. Não precisou de muito tempo para que meu amor platônico por Ushuaia se tornasse real. Depois de bater perna pela cidade, jantamos e fomos dormir cedo.

No outro dia acordamos cedo e fomos em direção à praça que fica próxima ao píer. Lá existem diversas agências de turismo que oferecem todos os passeios imagináveis. Queríamos muito fazer o passeio pelo Canal Beagle, até para conhecer o fotogênico Farol do Fim do Mundo. Contratamos o passeio com a empresa Patagonia Explorer e não nos arrependemos. Foi maravilhoso. Estava um frio congelante, mas valeu muito à pena.

O passeio que contratamos passa pelo famoso farol e por alguns pontos para vermos animais típicos da região, além de desembarcar em uma pequena ilha no canal, de onde temos uma bela vista da cidade e das montanhas ao redor.

Embora o farol que avistamos no passeio seja conhecido por lá como Farol do fim do mundo, a construção que ficou famosa em um dos livros de Júlio Verne fica bem mais longe dali, sinalizando o Cabo Hornos. Mesmo assim, o farol do canal Beagle (Les Eclaireurs) é muito fotogênico e imperdível pra quem visita Ushuaia.

O dia 10 foi dedicado a passear pelo Parque Terra do Fogo. O acesso ao parque é bem tranquilo, pois há vários transfers que partem da praça levando a todos os passeios disponíveis na cidade, conforme havíamos sido informados no dia anterior no Centro de Informações Turísticas.

Nosso transporte nos deixou dentro do parque, próximo a nossa primeira trilha e nos trouxe de volta à cidade no fim da tarde. O dia estava chuvoso, mas nem isso tirou o encanto do Parque e das trilhas.

Fizemos o circuito Lapataia , que tem cerca de 12 KM, e andamos por algumas outras trilhas menores. Levamos frutas e sanduíches na mochila e almoçamos ao som dos pássaros, no meio de uma graciosa floresta.

Durante esse passeio pudemos observar de perto o impacto ambiental dos castores, que foram levados para a região porque algum ser muito esperto achou que seriam uma boa fonte de renda. Nem preciso dizer que a ideia brilhante não deu certo né? Os bichinhos se multiplicaram porque não havia predadores naturais e danificaram grande parte das florestas e rios da região, construindo diques gigantescos.

No dia 11 fomos à Laguna Esmeralda. Havia pesquisado sobre a laguna e visto várias fotos do azul esverdeado das suas águas transparentes. É obvio que esse passeio não poderia ficar de fora do roteiro. Optamos por fazer a trilha sem guia, pois havia muitas informações disponíveis sobre o local e não parecia ser muito complicado chegar até lá.

Realmente foi bem simples. Pegamos um transfer na praça central de Ushuaia sem grandes dificuldades e cedinho já estávamos iniciando a trilha no Vale dos Lobos. Havia muita neve no caminho e em alguns pontos estava bastante escorregadio, pois a camada de gelo que se formara à noite estava derretendo. Ainda assim, não tivemos maiores dificuldades, embora o fato de não estar com bota impermeável tenha tornado a aventura mais congelante.

O caminho é bem sinalizado, com exceção de uma área de turba, que estava totalmente coberta pela neve. Para não errar a direção, bastou seguir o curso de um riacho que descia pelas pedras. Depois de algumas subidas e descidas, enfim, chegamos à Laguna Esmeralda.

Como dá para perceber, a Laguna estava CONGELADÍSSIMA. Nada de água azulada ou esverdeada. Apenas gelo. Mesmo assim a paisagem é maravilhosa e o passeio valeu muito à pena.

Ficamos por lá algum tempo, fizemos um lanchinho e voltamos pelo mesmo caminho, que já estava mais lamacento por causa do movimento das pessoas que começavam a chegar. Tomamos um café no restaurante que fica no início da trilha e fomos para a estrada aguardar o transfer, que se atrasou mais de uma hora (acho que fomos esquecidos, na verdade). Chegamos à noitinha na cidade. Fomos ao apartamento, trocamos de roupa e saímos para jantar. Tivemos um jantar excelente no Bodegón Fueguino.

No outro dia fomos ao  Glaciar Martial, uma montanha localizada há cerca de sete quilômetros do Ushuaia, que funciona como Centro de Esqui no inverno, mas que pode ser visitada praticamente durante todo o ano, principalmente em razão do glaciar, que fica no cume do Cerro.

Nós optamos por ir até lá de táxi e foi bem tranquilo. Chegamos ao local e passeamos rapidamente pelos arredores. Há um centro de visitantes no local, onde pegamos algumas informações. A trilha estava parcialmente fechada e o teleférico não estava funcionado. Acabamos subindo pela pista de esqui. Subida difícil, cansativa e escorregadia. 

Apesar da dificuldade, conseguimos chegar aos pés do Glaciar e de lá foi possível ver a exuberância da paisagem. Ficamos lá por um tempo, com direito a escorregar na neve e fazer anjinho.

Depois de aproveitar o local e parar para comer os sanduíches que estavam na mochila, começamos a descida, que, sem os crampones, foi bem delicada. Mesmo assim, com bastante paciência, a descida ocorreu sem percalços.

Antes de ir embora, passamos na simpática casa de chá e de lá pegamos um taxi para a cidade.

De volta a Ushuaia, fizemos um lanche no Bar d’ Pizza, passeamos no Duty Free, pois Ushuaia é um região de zona franca, e jantamos no Chicho’s, onde experimentamos a típica Truta Arco-Íris.

No dia 13 dissemos adeus a Ushuaia. Foi com um nó na garganta que arrumamos as coisas e fomos para o Aeroporto, de onde saímos para El Calafate, onde a segunda parte da nossa viagem aconteceria.

O voo foi tranquilo, pegamos uma van no Aeroporto e, depois de alguns minutos passando pelo deserto, foi possível avistar El Calafate. Um verdadeiro oásis.  Logo de cara foi possível notar a diferença entre a paisagem da terra do fogo, onde fica Ushuaia, e a região da Patagônia propriamente dita. Com exceção dos locais onde há algum tipo de estrutura criada pelo homem, a paisagem se resume a vegetação seca, grandes planícies e uma terra amarelada. Mal dá para acreditar que há vida ali.

El Calafate é bem turística, toda floreada, enfeitada de todas as formas. Limpa, organizada e muito bem estruturada. Não tem os atrativos naturais de Ushuaia, mas soube compensar isso de forma elogiável. 

Ficamos hospedados no Hotel ACA, que atendeu as expectativas. Deixamos as coisas no Hotel e fomos passear pela cidade, pois precisávamos contratar o passeio para o Perito Moreno, queridinho turístico da região. Depois de passar por algumas empresas, fechamos o passeio com a Hielo y Aventura, ficando acertado que no outro dia pela manhã iríamos cedo fazer o mini trekking sobre o glaciar.

Voltamos para o hotel e a a atendente, muito gentil, nos indicou um restaurante local para jantar, o La Marca. Fomos a pé mesmo e valeu à pena. A comida estava excelente, com uma porção bem generosa do típico Cordeiro Patagônico. Depois do jantar, fomos ao mercado comprar algumas coisas e fomos dormir.

No outro dia cedinho a van da empresa foi nos buscar no Hotel. Alguns minutos depois estávamos no Parque dos Glaciares, que abrange grande parte das montanhas da Patagônia. Tenho que admitir: A fama do Perito Moreno não é à toa. Impossível não ficar boquiaberto com a grandeza do glaciar, tanto em tamanho quanto em beleza. 

Ao chegarmos no local, atravessamos o Lago Argentino em um catamarã e colocamos os crampones, verdadeiras garras de metal que são encaixadas no solado dos calçados para podermos caminhar sobre o gelo sem escorregar o tempo todo. O passeio sobre o glaciar dura mais ou menos uma hora e meia, mas é bem tranquilo por causa das diversas paradas no decorrer do percurso. 

No final ainda rola um docinho e um uísque com gelo do glaciar. Terminamos o passeio e fomos almoçar nossos sanduíches. Depois fomos andar pelo parque, que tem algumas passarelas para observação do Glaciar a partir de vários ângulos diferentes.

Infelizmente choveu um pouco nesse dia e isso dificultou um pouco nossa caminhada. Mas nada que nos impedisse de passear. À tarde, voltamos para a cidade, fizemos um lanche na Panaderia D. Luis e fomos para o Hotel, onde a recepcionista nos ajudou a contratar um bate e volta para El Chalten no dia seguinte com a empresa Full Patagônia.

Por volta das seis horas da manhã do dia 15/09 uma van passou no hotel para nos buscar. A viagem foi ótima, com diversas paradas pelo caminho, inclusive no Parador La Leona, tão citado no livro que me inspirou durante os preparativos da viagem.

Chegamos em El Chalten por volta das 09h e fomos direto ao Centro de Informações Turísticas. Depois de uma explicação sobre o Parque, fomos fazer a Trilha Laguna Capri e de lá esticamos até o Mirador Fitz Roy. Retornamos ao ponto de partida e como ainda havia tempo, fomos até o Chorrillo del Salto.

As trilhas de El Chalten são maravilhosas e a vontade é de ficar lá por dias e dias para descobrir todos os segredos daquele lugar encantado escondido no meio da Patagônia. O total da caminhada que fizemos foi de aproximadamente 20 Km. No geral, as trilhas não foram difíceis, mas o início da Laguna Capri foi bem cansativo, com muitas subidas íngremes. Requer um pouco da paciência, mas nada que torne inviável.

Terminamos o passeio e voltamos para a cidade, de onde saímos às 18h20min, chegando em El Calafate as 21h20mim. Na volta foi possível acompanhar o sol se pondo atrás do Fitz Roy. Impossível descrever em palavras.

A viagem caminhava para o seu final, pois o plano era sair de El Calafate no outro dia. Ocorre que nem sempre as coisas seguem o roteiro.

Quando chegamos ao hotel vimos que a Aerolineas Argentinas havia encaminhado uma mensagem via email de que nosso voo havia sofrido alteração e que deveríamos procurar o Guichê da Companhia para mais informações. Imediatamente fomos verificar se havia alguma notícia envolvendo a companhia que pudesse justificar ou explicar a alteração no voo, ainda mais sem a informação quanto à manutenção ou não da data de partida. Para nossa surpresa, descobrimos que os funcionários da empresa estavam em greve em todo o país. What?

Pois é. Haviam paralisado as atividades e todos os voos da companhia estavam cancelados.

No outro dia cedo, em uma manhã congelante, fomos para a loja da companhia no centro de El Calafete, onde uma fila de turistas e locais se formou em busca de informações. Depois de muita espera e de exercitar a paciência (que costuma me faltar), saímos de lá com a passagem remarcada para o dia seguinte. A companhia nos alocou em outro hotel, onde havia alimentação incluída.

Fomos até o ACA, onde estávamos hospedados, pegamos nossas bagagens e de lá seguimos para o hotel indicado pela Empresa Aérea. Hotel antigo, mas bom. 

De lá, mantivemos contato com a Azul, pois teríamos que remarcar nosso segundo voo da viagem de volta, já que estava tudo certo para sairmos de São Paulo no dia seguinte e com a alteração do voo de El Calafate para São Paulo não chegaríamos a tempo.

Apesar do transtorno que essa situação gerou, conseguimos alterar o voo da Azul, pagando a taxa de remarcação. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Aproveitamos o dia a mais para passear mais um pouco pelo centro de El Calafate.

No dia seguinte, como programado, saímos com destino à Buenos Aires e de lá, em uma conexão bem apertada, para São Paulo. Dormimos no Ibis de Guarulhos e no outro dia chegamos em Cacoal, de onde viemos de carro para Vilhena.

 A Patagônia Argentina aqueceu meu coração e a minha alma de um jeito tão mágico que ainda consigo sentir os gostos, os cheiros e todas as sensações indescritíveis do lugar mais contraditório, inóspito e encantador que já estive.

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2 Resultados

  1. Elaine Kátia Gerhardt Marchetto disse:

    Estamos na expectativa. Cada dica aqui é valiosa!

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