Recife e Olinda – História, cultura e cores

Recife é uma das maiores cidades brasileiras. Não à toa, é conhecida como a capital do nordeste, dada sua importância política e econômica. Ainda assim, a cidade não costuma ser incluída nos roteiros turísticos.

Talvez isso se deva à desleal concorrência com outras cidades do nordeste, que têm praias infinitamente mais bonitas. Claro que o fato de vez ou outra aparecer algum tubarão em Recife também afasta os turistas praianos. Mas não é só de praias exuberantes que é composto o nordeste brasileiro.

Recife é uma ótima opção para quem gosta de boa gastronomia, museus e história. Foi com isso em mente que passamos cinco dias na capital pernambucana, no mês de novembro de 2018, usando um desses dias para conhecer um pouquinho de Olinda, praticamente colada a Recife.

Chegamos a Recife no dia 09/11/2018, já tarde da noite. Havíamos reservado duas noites no Íbis Recife Aeroporto, por conta da proximidade do aeroporto e do horário que nosso voo chegaria.

O hotel possui um convênio com uma cooperativa de taxis da cidade, que fornece gratuitamente o traslado desde o aeroporto, que foi muito útil para nós. Basta procurar um dos taxistas no desembarque e informar que deseja usar o convênio com o Íbis.

Vimos algumas dicas no Tripadvisor dizendo que esse transporte também é gratuito do hotel para o aeroporto, mas não utilizamos.

No dia seguinte, fomos ao Shopping Recife para comprar alguns itens que seriam úteis nos próximos dias e almoçar, enquanto aguardávamos o restante do time de viajantes, que chegou durante a tarde.

À noite, ainda no Shopping, jantamos no restaurante Coco Bambu. A rede de restaurantes é bem conhecida e possui unidades em diversos estados. Pedimos algumas opções de pratos e todos estavam excelentes. As bebidas também estavam ótimas e o ambiente era muito agradável.

Depois do jantar voltamos para o Hotel e, no outro dia, pegamos o carro que havíamos reservado na Unidas e seguimos para Maragogi e Porto de Galinhas.

Retornamos para Recife apenas no dia 18/11/2018 e, como o voo de nossos companheiros de viagem sairia apenas no meio da tarde, fomos fazer uma horinha no Shopping Riomar até a hora do almoço. Por volta do meio dia almoçamos no Outback. Os pratos estavam bons, mas o serviço foi um tanto quanto confuso.

Logo depois fomos até o Hotel Transamérica Prestige Beach, reservado estrategicamente por ficar em uma região bem bacana de Recife, perto de excelentes centros comerciais e restaurantes. Ainda era cedo para o check in, então deixamos nossa mala na recepção e seguimos ao aeroporto para deixar nossos amigos, que retornariam mais cedo para casa.

Assim que os deixamos lá, já seguimos para a locadora do carro e fizemos a devolução do veículo, já que nosso planejamento em Recife e Olinda não justificava a permanência com o carro, que, em cidades maiores, costuma ser mais um entrave do que uma vantagem.

Carro devolvido, voltamos ao hotel para o check in. Conseguimos um quarto de frente para o mar em um andar bem alto, com uma linda vista para a orla e uma parte da cidade. O quarto era bem confortável e espaçoso embora o hotel demonstre já alguns sinais de idade. Aproveitamos o resto da tarde para descansarmos um pouco e revisar nossa programação para os próximos dias.

Saímos apenas à noite e optamos por jantar em restaurante português bem pertinho do Hotel, chamado Tasquinha. O restaurante é lindo, muito aconchegante e acolhedor. A comida estava divina e os preços eram bem razoáveis, então, valeu muito à pena. De barriga cheia e relembrando nossa viagem à terrinha, retornamos para o Hotel e fomos descansar.

No dia seguinte, acordamos cedinho, tomamos café no hotel e saímos, de Uber, com destino a Olinda. Depois de ler alguns relatos de pessoas que haviam visitado Olinda e que dispunham do mesmo tempo que nós, fizemos uma espécie de mapa do trajeto que seguiríamos, incluindo no caminho nossos pontos de interesse.

Começamos pelo Mosteiro de São Bento, que, apesar de não estar em sua melhor fase, é muito bonito e possui verdadeiras obras de arte em azulejos.

De lá, fomos até a Sé, uma catedral muito interessante, de onde se tem uma linda vista.

Da Sé, seguimos até a Praça do Carmo, onde há um pequeno observatório e uma dezena de barracas de artesanato. É possível encontrar excelentes produtos por precinhos bem camaradas. Confesso que só não comprei mais bonequinhas de cerâmica porque não havia espaço na mala.

Continuamos nosso trajeto passando pelas Igrejas de São Pedro Apóstolo e da Misericórdia, mas optamos por não entrar em nenhuma delas. Passamos rapidamente pelo mercado da Ribeira e, acompanhando os impressionantes casarões coloridos, passamos em frente à casa de Alceu Valença, graciosamente marcada com um colorido beija flor.

Por falar em colorido, não dá para usar melhor adjetivo para Olinda. A cidade é um paraíso de cores, dos casarões às obras de arte em qualquer espaço disponível. É de uma autenticidade fascinante.

Fizemos todos os passeios em Olinda a pé e, apesar do sol escaldante e das ladeiras, foi bem vantajoso andar pela cidade. Existem certos passeios que só alcançam a finalidade se forem feitos a pé e com calma. Olinda é um exemplo disso. Apenas andando pelas ruas estreitas é que conseguimos parar e olhar com tranquilidade os murais, as fachadas e todos os detalhes que, em um passeio de carro, escapariam. Impossível caminhar por Olinda sem cantarolar mentalmente a música homônima de Alceu Valença: “Olinda, tens a paz dos mosteiros da Índia…”

Pouco depois das 13h saímos de Olinda de Uber e em menos de 30 min já estávamos em Recife novamente. Chegando, fomos direto ao restaurante francês Ça Va, que também fica bem pertinho do Hotel. O restaurante é muito bonito, mas a comida não alcançou as minhas altas expectativas. Eles estavam participando de um festival gastronômico promovido na cidade e experimentamos um menu especial do evento. Depois de almoçar, fomos descansar um pouco, pois havíamos andado um bocado em Olinda.

À tarde fomos ao Shopping Riomar, onde aproveitamos o cinema e ficamos andando pelas inúmeras lojas de um dos maiores centros comerciais da América Latina.

O dia seguinte foi destinado a conhecer um pouquinho da obra e da história dos irmãos Francisco e Ricardo Brennand, figuras conhecidíssimas na região e no cenário de arte nacional e internacional. A ideia era passar a manhã na Oficina Francisco Brennand e a tarde no Instituto Ricardo Brennand. Apesar de ambos serem irmãos e terem nítido envolvimento com a arte, a proposta de cada um desses locais é claramente diferente.

A Oficina Francisco Brennand, bem afastada da cidade, abriga a oficina em si, com as peças em cerâmica, esculturas espalhadas pelo Jardim e algumas galerias fantásticas. Passamos a manhã inteira por lá, observando a obra do conceituado e controverso artista.

Gostei muito do passeio e achei extremamente enriquecedor. Não apenas a parte da oficina, mas também os jardins e a galeria de desenhos e pinturas. Posso dizer, inclusive, que as telas pintadas por Francisco me fascinaram de modo único, até mais que as esculturas.

Como se não bastasse toda a grandiosidade do lugar, ainda existe um simpático restaurante, que, além de bolos deliciosos, possui grande variedade de pratos mais elaborados. Decidimos almoçar por lá e não nos arrependemos. A comida estava excelente e foi lá que comi o melhor bolo da vida. Simplesmente perfeito.

Encerramos o passeio na oficina e, de lá mesmo chamamos um Uber e fomos ao Instituto Ricardo Brennand.

Chegamos ao instituto por volta das 15h porque o trajeto demorou um pouco. O Instituto é impressionante. Composto por galerias e um castelo que abriga itens colecionados por Ricardo, que vão desde armas a armaduras medievais.

Além disso, por todo o pátio existem diversas réplicas de esculturas conhecidas, conferindo ao lugar uma atmosfera única. O lugar estava bem cheio, embora já estivesse próximo da hora de fechar, pois estava recebendo algumas excursões de adolescentes, provavelmente organizada por alguma escola ou projeto social.

Encerramos o passeio no fim da tarde e, mais uma vez de Uber, fomos direto ao Shopping Riomar, onde jantamos no Camarada Camarão, que possui diversas unidades na cidade. O restaurante segue o padrão dos demais estabelecimentos do gênero. É bem espaçoso, com decoração temática e boa comida. Vale a visita.

O dia 21, último dia em Recife, foi reservado para passear pelo Centro histórico, chamado de Recife antigo. Fomos de Uber até o Marco Zero e, de lá, seguimos a pé pelos prédios históricos e museus. Começamos pela Caixa Cultural, onde estava ocorrendo uma mostra de gravuras bem interessante.

Visitamos também a Torre Malakof, onde estavam sendo expostos alguns itens referentes à Cultura Japonesa. Havia até um concurso de origamis, onde os visitantes votavam nas peças que mais gostaram. Embora os origamis tenham sido interessantes e o prédio em si seja uma importante obra da arquitetura local, a visita só vale a pena pra quem tem um tempo sobrando.

De lá seguimos para o Centro de Artesanato, que é bem pequeno e toma pouquíssimo tempo da programação. Em menos de meia hora já havíamos visto as obras expostas. O local vale a pena ser visitado para conhecer um pouco do artesanato da região. Embora a entrada seja gratuita, percebemos que os preços das peças eram um pouco elevados em comparação com as encontradas no comércio de rua.

Saindo de lá, seguimos até o Museu Cais do Sertão, que possui uma arquitetura linda e um acervo incrível. Infelizmente, apesar de toda a tecnologia que poderia ser utilizada, estava um pouco abandonado. Muitas das atrações interativas estavam sem funcionar e uma vasta área estava sem exposição alguma.

Além disso, o prédio estava sem ar condicionado, e estava fazendo um calor absurdo, prejudicando bastante o aproveitamento da visita.

Realmente uma pena, porque o lugar é lindo e existe muita coisa a ser contada sobre a cultura da região.

De toda forma, indico o passeio, porque, apesar da aparente falta de manutenção, o museu é muito interessante e, além da história dos sertanejos em geral, possui muito material sobre Luiz Gonzaga, o que, para mim, já fez valer a visita.

Uma outra recomendação é não deixar de começar o passeio pelo túnel das origens. É projetado um pequeno filme do cineasta Carlos Nader, que é muito emocionante e já dá o tom do restante das atrações.

Saindo do Cais do Sertão fomos até o Paço do Frevo, um outro museu que conta a história desse ritmo tão peculiar da região. Esse museu, ao contrário do anterior, está muito bem cuidado e é muito bonito. Para quem gosta de entender a cultura local, vale muito a pena.

Deixamos o museu e fomos até o Paço Alfandega, um pequeno e charmoso Shopping às margens do Rio Capibaribe, construído onde, anteriormente, havia funcionado o Convento dos Padres da Ordem de São Felipe, depois a Alfândega e, por fim, a Santa Casa de Misericórdia. O lugar é muito bonito e preserva muitas das características originas do prédio, cuja construção data de 1732.

Aproveitamos para almoçar no Shopping e subimos até o terraço, que é aberto ao público e possibilita uma bonita vista da cidade.

Saímos do Paço Alfandega e fomos andando até o Palácio de Campo das Princesas, onde, atualmente, funciona a sede do governo. Infelizmente a visitação estava fechada, mas pelo pouco que vimos, o local é bem bonito.

Ficamos mais algum tempo andando pelas redondezas, inclusive paramos em uma praça na frente do palácio, onde há um exemplar dos famosos Baobás de Recife, que, diz a lenda, inspiraram Saint-Exupéry na obra o Pequeno Príncipe. Depois, procuramos uma via de acesso mais fácil e pedimos um Uber, que nos levou ao hotel.

Passamos praticamente todo o dia caminhando pela região histórica de Recife e eu, que esperava por um local visivelmente perigoso e tenso, com base nas estatísticas de violência da cidade, fui positivamente surpreendida. Achei o passeio muito tranquilo e em momento algum me senti insegura.

À noite, fomos ao restaurante Tratoria Toscana, praticamente a uma quadra do Hotel. O lugar é lindo e a comida, apesar de bem apresentada, estava razoável. Ainda assim, pela facilidade e pelo vinho, foi uma noite muito agradável.

No outro dia pela manhã ficamos no hotel ajeitando as coisas e saímos apenas para almoçar, optando por ir novamente até a Tasquinha, que ganhou meu coração desde a primeira visita. Pedimos um bacalhau e, de sobremesa, Pastel de Belém. Estava tudo maravilhoso.

Terminada a refeição, voltamos para o hotel e seguimos para o aeroporto, dizendo até breve ao Recife, com toda sua riqueza histórica e cultural.

Ai que saudade lá de Pernambuco
[…]
Daquelas pontes do Capibaribe
Das caçadas em Beberibe
E das noites de luar

Luiz Gonzaga, Saudade de Pernambuco
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