Um bate e volta para Toledo
Chovia. Estava frio e o dia estava totalmente cinza. Não havia turistas em Toledo. As coisas começaram estranhas neste dia.
Saímos de Madrid por volta das 10 da manhã com destino a Toledo, cidade que fica bem perto e é um bate e volta quase que obrigatório. A viagem de trem não durou mais que meia hora e, chegando na cidade, já notamos que estava bem vazia. Creditamos isso à chuva e seguimos a vida.
A cidade de Toledo é bastante conhecida por abrigar muitos monumentos árabes, judeus e cristãos, tudo dentro de uma área fortificada muito bem preservada, conhecida como casco antiguo. O acesso a ele é feito por algumas portas dispostas ao longo da muralha.
É certo que quando da construção da fortificação da cidade antiga, as portas tinham a precípua função de conferir proteção à cidadela, controlando o acesso ao interior das muralhas. Atualmente, apesar dessa função ter ficado para trás, não há como ignorar que as portas possuem uma nobre função: dar as boas vindas aos turistas, mostrando um pouco de tudo que está por vir.
Aliás, falando em boas vindas, não há como ser indiferente à estação de trem de Toledo. Assim que descemos do trem fomos arrebatados pela graciosidade dos azulejos coloridos, mesclando diversos estilos artísticos e culturais em um lugar só. É, meu povo, Toledo sabe bem a que veio.
Para entrar no casco antiguo nós optamos por ir até a Porta de Bisagra. Saindo da estação, fomos em direção à Ponte Azarquiel, de onde tiramos algumas fotos da Ponte Alcantara com a cidade ao fundo.
Então, prosseguimos na Calle Carrera até a rotatória onde fica a monumental Porta de Bisagra. Ao invés de entrar por ela, seguimos por mais alguns metros e subimos por escadas rolantes abençoadas, que nos levaram direto até o centro histórico. Um atalho que permite economizar pernas para o passeio pelas várias ladeiras que viriam pela frente.
A parte histórica de Toledo é relativamente pequena, mas há uma lista enorme de locais para visitar, aliás, não me lembro de ter visto tantas igrejas e museus em um espaço tão reduzido. Bem por isso, é praticamente impossível fazer todos os passeios em um bate e volta, então o esquema é escolher prioridades, até para que seja possível ter tempo de se perder pelas charmosas e labirínticas ruelas da cidade.
Nós já havíamos optado por passear de modo mais superficial, sem entrar na maioria dos locais, até pela questão do tempo. Para nossa surpresa, mesmo que quiséssemos entrar, não seria possível, pois estava tudo fechado. Está aí a explicação para a ausência de turistas. Tudo tem um lado bom: não tivemos problemas com um monte de turistas aparecendo nas nossas fotos.
Brincadeiras à parte, o fato é que rapidamente tivemos que rever os planos. Enquanto eu usava toda a minha capacidade investigativa para tentar entender por que estava tudo fechado, Fellipe traçou um plano B levando em conta a chuvinha que insistia em cair e priorizando os locais que valeriam a visita mesmo fechados.
Nessa linha, nossa primeira parada foi no Convento de La Puríssima Concepcion, onde tiramos fotos da fachada, que é bem bonita e, para os padrões de Toledo, até colorida. Em seguida, depois de algumas fotos aleatórias em ruas que pareciam saídas de um livro antigo, fomos em busca de um lugar para almoçar.
A chuva começou a engrossar e tivemos que comprar uma sombrinha. Neste momento, pela providência divina, encontramos o restaurante La Mona, que foi uma grata surpresa. O local estava bem vazio, pois ainda era cedo para os horários de almoço de lá, mas fomos muito bem recebidos. Depois de alguns minutos nos recompondo, pedimos nossa refeição, que estava excelente.
Saindo do restaurante, seguimos até a Santa Iglesia Catedral Primada, cuja fachada é lindíssima. Aproveitamos que o local estava vazio e tiramos fotos dos detalhes de todas as portas da Catedral, o que seria praticamente impossível em dias movimentados. Na frente da Catedral está a Plaza del Ayuntamento, onde fica o Ayuntamento de Toledo (que é a prefeitura da cidade) e de onde a maior parte das fotos foi tirada.
Depois da sessão de fotos na Catedral, seguimos para o Mirador Paseo San Cristobal, que tem uma vista muito bonita da cidade e das colinas que a cercam. Não é exatamente pertinho da Catedral, mas vale uma caminhada.
Continuamos nosso passeio e fomos até a Plaza Zocodover, onde experimentamos o Mazapan, doce bem típico de Toledo. Pelo que notei é como se fosse um doce de Marzipã e recheio de geleia de frutas. Havia vários locais vendendo e realmente é uma iguaria que deve ser provada.
A plaza é bem simpática, com belas construções ao redor e uma estátua de Miguel de Cervantes, todo pomposo. Para tirar foto da estátua (ou com a estátua) é só atravessar uma das portas em estilo Mudéjar, o Arco de la Sangre. Aliás, a porta é uma graça e depois de muitas tentativas, enfim conseguimos uma foto nela (no caso eu consegui né, porque Fellipe estava atrás das lentes).
Deixamos a praça e seguimos com destino ao Alcazar de Toledo, que fica bem próximo. Coisa de cinco minutinhos caminhando e já era possível avistar o Alcazar. A construção é enorme e muito bonita, tão imponente que chama atenção em qualquer foto que mostre a cidade.
Do Alcazar nós decidimos ir até o Mosteiro S. Juan de Los Reyes, que fica do outro lado do centro antigo. Isso rendeu uma boa caminhada, em especial porque algumas ruas estavam fechadas por obras e tivemos que fazer vários desvios. Além disso, como a cidade é meio labiríntica, nem o GPS se entendia direito entre os prédios históricos e as ruas estreitas.
De todo modo, depois de uma pernada de respeito, chegamos ao Mosteiro e conseguimos as fotos que queríamos. Lógico que também estava fechado, mas isso não diminuiu a beleza do lugar, que é um ícone da arquitetura gótica. Ainda nos entornos do mosteiro, fomos até a simpática Plaza Virgen de Gracia, de onde tivemos uma bela vista do Rio Tejo e das torres do Mosteiro.
Saindo da praça passamos pelo Real Colegio de Doncellas Nobles e seguimos caminho até o Miradero, que tem vistas impressionantes da cidade. Ali também há escadas rolantes, que usamos para sair do casco antigo. Vida longas às escadas rolantes!
Chegamos à parte baixa da cidade bem perto do anoitecer, então já aproveitamos para tirar algumas fotos com as luzes da cidade sendo acesas.
Infelizmente, como voltamos basicamente pelo mesmo caminho da nossa ida e estávamos exaustos de tanto caminhar, tivemos que desistir de passar pela Ponte de Alcantara, mas como eu disse ali em cima, passear por uma cidade tão linda em apenas um dia exige escolher prioridades.
Enfim, seguimos para a estação de trem e compramos nossos bilhetes. Assim encerramos nosso dia em Toledo e, já no trem, pesquisando no sites de notícias locais, desvendamos o mistério da cidade vazia: tudo estava fechado em virtude de um feriado local.
No fim das contas, tivemos foi sorte, pois conseguimos andar tranquilamente pela cidade durante todo o dia, sem a movimentação típica de turistas que costuma haver. Mais que isso, temos agora a desculpa perfeita para voltar a Toledo e ver os monumentos por dentro, em especial a Mesquita Cristo de La Luz e a Sinagoga Santa Maria La Blanca, que não visitamos desta vez.
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