ÁFRICA DO SUL: JOANESBURGO- MUSEU DO APARTHEID


No dia 24/11/2017, aproveitando uma promoção de passagens da LATAM, compramos as passagens para Joanesburgo, na África do Sul, e começamos a tornar palpáveis os enigmas, as perguntas e as descobertas de um país surpreendentemente parecido com o nosso e, ao mesmo tempo, tão diferente.

As passagens foram compradas em novembro, para uma viagem que seria realizada entre os dias 15/03/2018 e 03/04/2018. Como o tempo era curto, optamos por chegar na África do Sul por Joanesburgo e retornar ao Brasil saindo da Cidade do Cabo, fazendo deslocamentos internos de carro e de avião. No final das contas, as passagens de ida e volta (Guarulhos X África), já com as taxas, saíram por R$4.109,48 para duas pessoas.
Compradas as passagens, era hora de começar o planejamento e tentar fazer um milagre para multiplicar os dias e perder o menor número possível de atrações. Talvez muitas coisas bacanas tenham ficado de fora, mas acho que conseguimos aproveitar bem nossa estada pela África.
Saímos de Guarulhos às 18h e depois de dez horas e trinta minutos estávamos aterrissando em Joanesburgo. Há uma diferença de fuso horário de cinco horas em relação a São Paulo e seis horas a mais em relação à Rondônia, onde moramos. Assim, embora o relógio marcasse 09h30mim quando chegamos, o corpo acreditava firmemente que ainda era madrugada.
Pegamos a bagagem no aeroporto e fomos até a loja da Europcar, onde já havíamos feito a reserva de veículo para nos acompanhar por alguns dias. Pegamos o carro sem problemas e já saímos em direção ao Hotel que havíamos reservado, o Signature Lux. Passado o breve choque com a mão inglesa, cruzamos a cidade até o Bairro Sandown, onde estava localizado o Hotel.
Chegamos um pouco antes do horário de check in, então deixamos as malas guardadas no carro e deixamos o veículo já no estacionamento do Hotel. Estávamos cansados, com fome e com frio. Fomos para Joanesburgo esperando o clima agradável por volta dos 20 graus e chegamos lá em um dia nublado em que a temperatura estava na casa dos 12/13 graus.
Embora a vontade era de ficar no Hotel aguardando o check in, não tínhamos tempo a perder. Além disso, se dormíssemos naquela hora o corpo demoraria ainda mais para se acostumar com a diferença do fuso horário.
Assim, fomos a pé até a Nelson Mandela Square, uma praça que conta com restaurantes e diversas lojas, que fica praticamente na frente do Hotel, muito perto mesmo.

Depois de dar uma volta pelo local, ainda em fase de adaptação às características das pessoas, dos lugares e da língua (a língua oficial é inglês, mas existem muitos dialetos locais que são usados), escolhemos um restaurante chamado Mugg & Beans para comer. Pedimos uns pratos que lembravam sanduíches, num misto de café da manhã e almoço. Estava uma delícia e, de plano, foi possível perceber que a alimentação por lá era bem mais barata que em outros países.
Terminamos nossa refeição e voltamos para o Hotel. Fizemos o check in e fomos para o quarto. O hotel é bem interessante. Parece ser novo, tem uma estrutura boa, quartos confortáveis e decoração um tanto peculiar (só para dar uma ideia, existem mosaicos de Leopardos e outros animais na fachada e lustres gigantes na recepção).


Tomamos banho, descansamos um pouco e descemos para tentar ir até o Museu do Apartheid, que queríamos muito conhecer dada relevância histórica e social.
Tentamos ir de Uber, mas não foi possível. Pelo que notamos, os taxistas não aceitam muito bem a utilização do Uber por lá. Chegamos a pedir pelo aplicativo, mas fomos impedidos de embarcar por um taxista, que praticamente expulsou o motorista de lá. Embora o taxista tenha sido ríspido com o motorista, conosco foi gentil e explicou, em um inglês quase incompreensível para nós, as razões pelas quais não “aconselhava” a usar Uber.
Chegamos a pensar em não fazer o passeio, pois era longe e estávamos cansados. Acabamos optando por ir assim mesmo, pois não teríamos outra oportunidade. Pegamos o carro e fomos até lá. O trânsito estava fluindo super bem e não demoramos a chegar.
Compramos nossos ingressos e fomos até a entrada do Museu. Não dá para ficar indiferente às duas entradas, uma onde se lê Blankes/Whites e a outra onde se lê Nie Blankes/Non Whites. O choque causado pela divisão entre brancos e não brancos, logo na entrada do Museu, já te insere na loucura que foi o apartheid.


A partir desse local, se entra no museu por dois corredores, que mostram uma série de situações em que a cor da pele e os traços genéticos eram usados para separar as pessoas. Essa divisão era utilizada para quase todas as situações cotidianas: escolas, banheiros, lojas, restaurantes, transporte, enfim, praticamente tudo.
Depois dessa sala inicial, com alguns corredores, há uma vasta área externa com informações sobre o sistema e sobre a lutas travadas até sua abolição. Na parte interior existem exposições permanentes e, no dia em que fomos, também estava ocorrendo uma exposição específica sobre Mandela.
O Museu é excelente, muito bem cuidado e com muita informação. Permite uma verdadeira imersão na história da África. Uma das melhores coisas que fizemos foi fazer esse passeio logo na chegada. Assim foi possível nos familiarizarmos às dificuldades do país. Depois que saí de lá, passei a ver coragem nos olhos de todas as pessoas com quem cruzava e me senti orgulhosa pela luta que eles, aos poucos, estão vencendo.

O apartheid foi uma política racial implantada na África no Sul da década de 40, oficializada em 1948, através do Novo Partido Nacional. Durante o regime segregacionista, não era permitido que os “não brancos” votassem ou adquirissem terras, o que os obrigava a viver em comunidades isoladas, como um confinamento geográfico. Havia uma preocupação muito grande dos segregacionistas com a miscigenação, porque isso poderia acabar com a “raça pura”. Em razão disso, relacionamentos entre pessoas de etnias diferentes não eram permitidos.
Em 1950 uma organização denominada Congresso Nacional Africano (CNA), que existia desde 1912, lançou uma campanha de mobilização da sociedade a fim de colocar fim ao movimento segregacionista, incitando que as ordens fossem deliberadamente desobedecidas. Esse movimento se fortaleceu e em 1960 houve um violento conflito, em que a polícia matou certa de 70 pessoas que participavam de uma manifestação, isto em Shaperville. Isso provocou uma onde de manifestações e conflitos pelo país e a CNA foi declarada ilegal. Com isso, o líder do movimento foi preso em 1962 e condenado à prisão perpétua. Sim, estamos falando de Nelson Mandela.
Enquanto Mandela cumpria a pena imposta, o regime de minoria branca entrava em decadência e se enfraquecia a cada dia. Depois de algumas intervenções da ONU, ocorreram mudanças pontuais na política de segregação, mas nada que modificasse os horrendos aspectos principais do regime racista.
Apenas em 1989, com a posse do presidente Frederik de Klerk é que as luzes da igualdade começaram a brilhar. Em atenção à forte pressão popular, um dos primeiros atos do governo de Klerk foi conferir legalidade à CNA e determinar a libertação de Nelson Mandela. Tais decisões foram legitimadas em 1992, em um plebiscito só para brancos, em que quase 70% da população votou pelo fim do apartheid. Em virtude disso, em 1993, Klerk e Nelson Mandela receberam o Prêmio Nobel da Paz.
Com a possibilidade de que os não brancos também votassem, em 1994, dois anos após sua libertação, Nelson Mandela foi eleito Presidente da África do Sul, nas primeiras eleições multirraciais do país, dando início a uma série de políticas visando tornar igualitário o tratamento a todas as pessoas.
Infelizmente, apesar do fim do apartheid ter sido uma vitória imensurável, é nítido que os traços do regime segregacionista ainda estão presentes. Os danos causados talvez nunca desapareçam. Os negros são maioria absoluta na África do Sul e, ainda assim, é comum que mais pessoas brancas ocupem posições de chefia. A queda do regime é muito recente e, certamente, o tempo e as batalhas cotidianas, se encarregarão de acabar com as diferenças.
Depois que voltamos ao hotel, fiquei horas imaginando como uma minoria branca consegue chegar em um local e simplesmente impor um regime de segregação racial que coloca a população para viver em comunidades isoladas, sem direito a nada. Aí me lembrei que a minoria branca tinha armas e poder econômico. Me lembrei também que não foi muito diferente por aqui…

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3 Resultados

  1. Ariel disse:

    Muito bom parabéns pelo relato

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