Atacama: Valle de La Luna

Nossa programação para o primeiro dia no deserto do Atacama era bem tranquila. Já sabíamos que não adiantava querer fazer muitas coisas no mesmo dia, principalmente porque altitude é um fator complicador e o ar seco também não é lá muito amigável. Na nossa viagem para o Peru acabamos nos empolgando demais no primeiro dia e grande parte do grupo de viajantes foi vencido pelo mal da altitude.

Por isso, até para ficarmos mais íntimos da região e possibilitar que nosso corpo fosse de acostumando, os planos eram passear pela cidade e conhecer os dois vales famosos na região, que ficam relativamente perto de San Pedro: Valle de La Luna e Valle de Marte (ou Morte).

Acordamos tranquilamente, com o sol entrando de fininho pelas frestas da janela depois de uma silenciosa e agradável noite no lodge. Saindo do quarto, já fomos vendo o quanto o dia estava lindo. O céu azul de doer, um ventinho gelado e um sol assustadoramente brilhante.

Caminhamos até o salão do café da manhã: acolhedor, intimista e com uma decoração muito aconchegante. Havia uma boa variedade de bebidas, inclusive uma gama de chás usados para o mal da altitude. Além disso, também havia frutas, pães feitos no hotel e bolo. Ainda, nos deram a opção de escolher ovos para acompanhar os pães.

Tomamos nosso café com calma e saímos para conhecer a cidade. De fato, ela é bem pequena. A maior parte das ruas não tem asfalto, o que culmina em bastante poeira nas horas de maior movimento. Apesar disso, eu achei o centrinho muito simpático, com todas as construções em adobe e uma vibe bem descontraída.

A rua Caracoles é a principal via para os turistas, pois lá estão os restaurantes e agências de passeios. A maior parte dos hotéis também está espalhada no entorno dela. Por isso, para quem não estiver de carro, a grande dica é ficar ali por perto, pois assim é possível se deslocar à pé.

No entanto, se estiver de carro, acho que vale ousar um pouquinho na hospedagem e escolher um hotel fora do centrinho. Certamente será mais tranquilo. Se, além disso, quiser um lugar calmo e que ainda possibilite ver as estrelas, o melhor é se afastar bem da cidade. Foi exatamente o que fizemos e garanto que vale a pena. Nós ainda vamos falar algumas vezes sobre o céu do Atacama, mas já adianto que é uma coisa surreal. Então, ficar em um local onde possa ver as estrelas é uma excelente escolha.

Duas coisas nos chamaram muito atenção enquanto andávamos pela cidade. A primeira é a grande quantidade de brasileiros. Em certas situações, se ouvia muito mais português do que espanhol.

A segunda era a grande quantidade de cachorros nas ruas. Alguns nitidamente tinham casa, pois estavam com adornos e coleiras. Outros, no entanto, pareciam ser criados na rua desde sempre. Além disso, todos eles eram grandes e, aparentemente, muito acostumados com aquele estilo de vida. Tamanha é a quantidade de cachorros na rua que a cidade foi apelidada de San Perro do Atacama, em alusão à palavra perro, que significa cachorro em espanhol.

Acho que em menos de uma hora demos umas duas voltas pela Caracoles. Andamos por mais algumas ruas adjacentes, passeamos pelas proximidades da Igreja e fomos almoçar. Escolhemos um restaurante bem simpático chamado Ckunza Tilar. Pedimos uma opção de prato com peixe e outra com frango. Para acompanhar, sucos de manga e de abacaxi. Estava tudo uma delícia.

Depois do almoço, voltamos para o hotel para esperar o sol ficar mais amigável, já que os passeios da tarde eram ao ar livre. Na nossa cabeça, depois das três da tarde o sol ficaria mais fraco, como ocorre no Brasil, o que tornaria as caminhadas mais aprazíveis.

Ledo engano. No Atacama o sol só fica mais gentil quando se põe. Quando percebemos que o sol ia permanecer forte, resolvemos enfrentar e fazer o passeio ao Valle de La Luna, pois se demorássemos muito não conseguiríamos fazer tudo o que estava planejado.

Saímos do hotel por volta das três e fomos em direção ao Valle de La Luna. Havíamos comprado as entradas pelo site na noite anterior, então apresentamos o comprovante na recepeção e recebemos as orientações, um mapa bem explicadinho e já demos início ao passeio. Registro, desde já, que é um passeio muito fácil de fazer por conta própria.

O Valle de La Luna é um parque bem grande, formado por uma depressão em um solo salino. Inclusive, já houve extração de sal no local e á possível ver as costas de sal em diversos lugares. Com o passar do tempo, o vento e a erosão foram esculpindo verdadeiras obras de arte, que dão ao lugar um visual único. Segundo dizem, o cenário se assemelha ao solo da Lua, daí o nome.

O Valle de La Luna, na verdade, é um parque, que conta com duas entradas. A principal, por assim dizer (onde são vendidos os ingressos), fica aberta das 9 da manhã até as 17 horas. A outra entrada, que dá acesso ao Mirador Ckari (Pedra do Coyote), fica aberta até à noitinha, pois é lá que as pessoas se reúnem para ver o por do sol. O ingresso já permite a entrada nos dois setores, mas é preciso ficar atento com o horário de saída no setor principal e com o horário do por do sol no mirador.

Para visitar o parque é bem simples. Há uma única estrada, de terra mas em boas condições, e em vários pontos demarcados é possível estacionar e fazer algumas trilhas à pé. Basicamente, você segue pela estrada com o carro e vai parando nos estacionamentos. Encerrado o passeio, volta à entrada do parque pelo mesmo caminho. Zero chance de se perder e ficar preso no deserto!

Saindo da recepção do parque, você segue com o carro até o estacionamento que dá acesso à trilha Duna Mayor. Depois, seguindo adiante, há outro estacionamento, que dá acesso a trilha do Mirador Achaches. Mais adiante há um outro estacionamento que possibilita ver uma mina de sal abandonada e, por fim, há o último estacionamento, de onde se vê as Três Marias. No total, são cerca de 11 quilômetros de estrada.

Nós paramos no primeiro estacionamento e fizemos a trilha Duna Mayor. É uma trilha curta, mas cansativa, pois é uma subida na areia fofa, com aquele sol na cara. De toda forma, vale muito a pena, pois o visual é impressionante. Não se trata apenas de areia, mas formas e cores surpreendentes.

Encerrada a trilha da duna, seguimos adiante e fomos até o outro estacionamento, de onde partimos para a trilha do Mirador Achaches. Particularmente, achei ela mais pesada, pois é um trecho mais longo de subida e a areia estava bem remexida, de modo que acabou sendo mais cansativo. Essa trilha passa por três mirantes, mas nós fomos apenas até o segundo. Inclusive, para mim, o ponto mais interessante da trilha está na metade da subida, quando é possível olhar para trás e avistar a parede de pedras conhecida como anfiteatro.

Encerradas as trilhas desse entorno, seguimos de carro até a próxima parada, uma mina de sal abandonada. Tiramos algumas fotos, mas não fizemos a trilha, pois nosso tempo estava curto. De lá, fomos até o final da estrada, onde estão as Três Marias. Passamos por lá bem rapidamente e pegamos o caminho de volta, pois queríamos chegar até a Pedra do Coyote antes do por do sol.

Saímos do parque bem perto do horário limite e seguimos para o Mirador Ckari. Para chegar até lá é preciso sair do parque, andar mais alguns quilômetros e entrar novamente pela outra entrada. Dela, é possível ir caminhando até os mirantes.

No por do sol, a galera se aglomera por lá para ver o fim do dia e, de fato, é um espetáculo. As coisas no deserto são realmente mais dramáticas. As cores, as sombras na paisagem quase lunar e aquela imensidão tornam tudo inesquecível. Depois do momento memorável, voltamos para o hotel.

Infelizmente, nosso dia rendeu menos que o esperado, pois mal deu tempo de fazer o passeio no Valle de La Luna. Conquentemente, o Valle de La Muerte acabou ficando de fora, pois saímos do Mirador Ckari já perto do anoitecer.

O fato é que nós subestimamos o deserto. Justamente por isso, nossa providência imediata foi dar uma reprogramada nos passeios dos dias seguintes, calculando melhor o tempo que gastaríamos em cada um e levando em conta os horários em que conseguiríamos aproveitar melhor.

Ajustes feitos, saímos para jantar e depois fomos descansar, afinal de contas a aventura estava apenas começando.

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1 Resultado

  1. Elaine Kátia Gerhardt Marchetto disse:

    Amei a riqueza de detalhes!!

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