Medialunas Argentinas
Desde a primeira vez que experimentei medialunas, meu coração elegeu um novo amor. A maciez e a doçura das medialunas transformam qualquer café da tarde em um verdadeiro acontecimento. Para quem ainda não teve o prazer de experimentar, posso dizer que se parecem com um croissant, mas são um pouco mais doce e menos folhadas. Tamanho o amor por elas que volta e meia aparecem nos posts de viagens pela Argentina e Uruguai.
Há alguns meses (ou anos, já nem sei), comprei um livro sobre pâtisserie do Will Torrent (que você pode comprar aqui). Minha vida na cozinha pode se dividir em antes e depois dele. É um livro maravilhoso, descontraído, com receitas espetaculares. Esse livro me fez acreditar que era possível ir além. A partir da leitura dele eu consegui vencer alguns dos meus medos gastronômicos.
O primeiro deles foi a massa folhada. Sempre tive fascínio pela textura das massas folhadas, pelas curiosas e instigantes camadas de massa que não se misturam. Até em virtude disso, sempre fui apaixonada por mil folhas e croissants. Depois conheci as medialunas e, por último, a tarte tatin.
Aliás, foi pra tentar fazer a tarte tatin que me aventurei nas massas folhadas. Em alguns meses escalonei do total desastre a um relativo sucesso. Várias receitas perdidas, bagunça na cozinha, manteiga espalhada até pela alma, enfim, essas coisas comuns para quem está descobrindo algo novo. Soma-se a tudo isso o martírio que é trabalhar com massa folhada usando manteiga em uma região quente e úmida como o norte do Brasil.
Mesmo com todas as dificuldades, o processo evoluiu. Assim, quando consegui construir a massa folhada, decidi ir mais longe e tentar fazer croissants. Deles para as medialunas foi um passo mais curto e totalmente óbvio, já que, perdoem-me os franceses, gosto mais de medialunas que de croissants.
Por fim, se vocês também quiserem se aventurar por esse caminho, como eu prometi no post sobre as empanadas, segue um receita bem bacana, inspirada em um post do blog En Mi Cocina Hoy, que detalha o processo com bastante preciosismo.
INGREDIENTES:
Massa
- 150 ml de leite
- 10 gramas de fermento biológico seco
- 270 gramas de farinha de trigo
- 25 gramas de açúcar
- 15gramas de mel
- 05 gramas de extrato de baunilha
- 05 gramas de sal
- 01 ovo pequeno
Empaste
- 20 gramas de farinha de trigo
- 100 gramas de manteiga extra sem sal
Calda
- 1/4 xícara de açúcar
- 1/4 xícara de água
COMO FAZER:
Inicialmente, retire a manteiga da geladeira para que adquira consistência pastosa. Enquanto isso, esquente o leite, coloque em uma tigelinha e dissolva o fermento. Essa mistura de fermento e leite deve ficar uns dez minutinhos quietinha, até que o fermento crie uma espécie de espuma na superfície.
Durante esse tempo de ação do fermento, vamos fazer o empaste, que é a massinha de manteiga que deve existir entre as camadas de massa. É justamente por causa dela que as camadas da massa não se misturam.
Para fazer o empaste, misture a farinha e a manteiga, que já deve estar mais molinha. Aqui um detalhe: tem muita gente que usa margarina para fazer a massa porque é mais fácil, mais estável e há até um tipo de margarina específico para folhar. Mas margarina é algo que não faz parte dos gêneros alimentícios aceitos por aqui, então sempre uso manteiga.
Bom, depois de misturar bem a manteiga e a farinha, essa pastinha deve ser colocada no centro de um pedaço de papel manteiga. Vá moldando com uma colher até que se forme um quadrado de mais ou menos 10 centímetros. Em seguida, cubra o quadrado com as sobras do papel e leve à geladeira. Ele deve ficar lá por, no mínimo, meia hora.
Encerradas essas etapas preparatórias, vamos começar a fazer a massa. Primeiramente, coloque o leite com o fermento na tigela da batedeira. Em seguida, acrescente os demais ingredientes líquidos, o açúcar e, por último, a farinha.
Sove a massa na batedeira, com o gancho, por uns 15 minutos em velocidade baixa. Se você não tiver uma batedeira planetária, esse processo de misturar os ingredientes e sovar pode ser feito na mão, mas, sabe como é, dá um pouco mais de trabalho.
Quando a massa já estiver sovada, bem elástica, retire da batedeira e coloque sobre uma superfície enfarinhada. Em seguida, com um rolo, abra a massa em um retângulo (ou qualquer outra figura geométrica semelhante) de mais ou menos 20 x 30. Repare que a massa não deve ficar muito fina neste momento. Quando conseguir formar o retângulo com a medida aproximada, pode parar de esticar.
Com a massa aberta, chegamos àquele momento tenso, de colocar a manteiga. É só manter a calma que tudo vai dar certo. Se estiver em um cômodo com ar condicionado, essa é a hora de ligar. Centralize o bloquinho de manteiga na massa e, com as bordas que ficam sobrando, vá encapando-o, como se fosse um presente. Para garantir que está bem lacrado, vale fixar as emendas apertando-as com as pontas dos dedos, para evitar que a manteiga queira fugir e causar danos.
Feito isso, é hora de fazer a primeira abertura da massa já com o “recheio”. A ideia é abrir até que se forme novamente um retângulo de uns 20X30 centímetros. Para não tornar mais complexo o processo, eu sempre mantenho a parte mais estreita da massa virada para mim. Também evito fazer muitos movimentos para as laterais da massa, tentando seguir sempre o mesmo sentido.
Conseguindo abrir a massa, vamos fazer a primeira dobra. Para tanto, vamos dobrar um terço da massa sobre ela mesma e, em seguida, fazer o mesmo com o restante. Concluída essa fase, que chamamos de primeira dobra, essa massa deve ser embrulhadas em plástico filme e levada imediatamente à geladeira, onde deve ficar por uma hora.
Passado esse tempo, a massa deve ser retirada a fim de que seja feita a segunda dobra. O procedimento é basicamente o mesmo, com a diferença que a massa cresceu um pouco e isso torna um pouquinho mais difícil na hora de abrir com o rolo.
A massa deve ser aberta em um novo retângulo e, em seguida, dobrada novamente. Então, ela volta para a geladeira e fica lá por mais meia hora. Passado o tempo, temos que repetir o processo novamente, concluindo a terceira dobra e colocando a massa na geladeira por uns vinte minutinhos.
Enquanto a massa descansa na geladeira pela última vez, vamos começar os preparativos para abrir e moldar as medialunas. Prepare a bancada com bastante farinha, coloque o rolo na geladeira pra que fique mais fácil realizar a abertura da massa (principalmente se você mora em uma região quente) e prepare a assadeira. Aqui uso uma retangular forrada com papel manteiga, mas pode ser qualquer uma.
Retire a massa da geladeira e abra bem com o rolo, até que fique com mais ou menos 0,4 cm de espessura. Se conseguir manter a forma retangular é melhor porque fica mais fácil na hora de cortar as medialunas. Para modelar é muito simples: Corte a massa em triângulos e enrole, puxando as pontinhas para dar o formato de meia lua. Em seguida, coloque na forma e deixe crescer por uns quarenta minutos.
Quando conseguir ver as camadas de massa separadinhas, bem definidas, é hora de acender o forno e, quando já estiver aquecido, pincele ovo sobre as medialunas e leve para assar. Quando elas estiverem ficando com a crosta douradinha, faça a calda de açúcar (só misturar em uma panelinha açúcar e agua até o açúcar derreter) e coloque por cima. Eu deixo elas com a calda no forno desligado por uns cinco minutos antes de retirar, para que absorvam bem.
Elas podem ser servidas quentinhas ou, após assadas, podem ser congeladas. Se quiser dispensar o congelamento, frescas aguentam uns três dias, mas é bom aquecer antes de servir. Aqui em casa, como por mágica, elas desaparecem em questão de minutos.