Costa Rica: Puerto Viejo

A Costa Rica possui um litoral lindo e vasto. De um lado, o Oceano Pacífico, onde estão as praias de Guanacaste, Manuel Antônio e tantas outras. Do outro lado, já banhado pelo Mar do Caribe, temos uma parte menos famosa do litoral, na região de Limón, onde fica a cidade de Puerto Viejo de Talamanca.

Embora Puerto Viejo esteja, tecnicamente, no caribe, a região não costuma aparecer no topo da lista de praias da Costa Rica. É que a província de Limón é um pouco mais rural, não tem toda a ostentação de Guanacaste, nem a estrutura de Manuel Antônio.

Apesar disso, decidimos conhecer e tirar nossas próprias conclusões, principalmente porque minha maior curiosidade em relação à região não eram as praias, mas sim a culinária.

Eu queria muito entender os sabores do caribe costarricense, provar os pratos típicos e ver de perto a mistura de culturas, principalmente em razão da influência cultural da Jamaica.

Tendo tudo isso em mente, enfrentamos um dia inteiro de viagem de Manuel Antônio até Puerto Viejo. A distância entre as duas cidades é grande (cerca de 350 km) e, mais que isso, há uma cadeia de montanhas entre elas. Atravessar isso tudo não foi simples, mas a paisagem, principalmente na região mais alta, era linda.

Esse deslocamento demonstra muito bem aquela situação em que a dificuldade e o prazer vêm da mesma fonte. O caminho é mais difícil em razão das montanhas, mas também é mais belo em virtude delas. Coisas da vida.

Nós havíamos pensado em almoçar na cidade de Turrialba, quase na metade da jornada, mas nos atrasamos um pouco e passamos por lá tarde. Além disso, algumas das opções de restaurante que havíamos pesquisado estavam fechadas.

Assim, seguimos viagem e fizemos uma paradinha em um restaurante na beira da estrada, no melhor estilo “soda”, como são conhecidos esses restaurantes mais simples. Tomamos um refrigerante, comemos umas empanadas duvidosas (mas saborosas) e continuamos nosso trajeto. A paradinha foi tão rápida que nem foto tiramos.

Ao anoitecer, estávamos chegando a Puerto Viejo. De todas as cidades que havíamos visitado, sem dúvidas Puerto Viejo foi a mais peculiar. Há poucas ruas com asfalto e o comércio é bem pitoresco, no bom sentido. Lojas de artesanato se misturam com quitandas e uma infinidade de restaurantes, inclusive alguns mais sofisticados.

Passamos pela pequena cidade e seguimos até as imediações da Playa Cocles, onde ficava o Satta Lodge, nosso hotel pelos próximos três dias. O lodge fica em uma região bem bucólica, perto de tudo, mas ao mesmo tempo isolado em meio a um bosque muito bem preservado. O local conta com alguns chalés, bem como área comum com piscina e restaurante, onde é servido o café da manhã.

Como os chalés estão espalhados pelo amplo terreno, as árvores entre um e outro garantem total privacidade. No máximo algum bichinho curioso vai aparecer para dar um alô.

Apesar da aparente rusticidade, o chalé era muito confortável. Estava muito limpo, com uma decoração aconchegante. Tanto a cama quanto o chuveiro eram ótimos. Para tornar ainda melhor a experiência, havia uma varandinha com mesa e cadeiras, excelentes para aproveitar um tempo de descanso no fim da tarde.

Assim que chegamos fomos recebidos pela dona do lodge, que nos informou sobre a hospedagem, bem como deu dicas sobre restaurantes e outras coisas a fazer nos arredores. Alguns minutos depois, inclusive, recebemos informações extras pelo Whatsapp. Seguindo uma das recomendações, fomos jantar no restaurante La Nena, bem pertinho do lodge. Nossa passagem por Puerto Viejo não poderia começar melhor!

O local é bem simples, tipo uma soda mesmo, mas é muito autêntico. Havia uma pequena fila quando chegamos, mas em coisa de meia hora já estávamos devidamente acomodados. Fellipe pediu um prato típico composto por arroz e feijão com leite de coco (!) e um frango ao estilo caribeño. Eu pedi burritos de frango à moda caribeña.

Além disso, provamos uma bebida típica local, chamada água de sapo. Segundo pesquisas posteriores, é uma mistura de água com gengibre, um tipo de melado e outras coisas misteriosas. Tudo o que pedimos estava delicioso, inclusive a bebida. Depois de jantar, voltamos ao hotel e fomos descansar.

O dia seguinte começou com um delicioso café da manhã no lodge. Pedimos ovos e torradas, que vieram acompanhadas de geleia artesanal. Além disso, ainda havia frutas, suco e café. Tudo muito caprichado e saboroso.

Encerrada a refeição, saímos para passear. O foco do dia eram as praias da região. Inicialmente havíamos pensando em visitar as praias mais conhecidas, Playa Negra, Playa Cocles, Playa Punta Uva e Playa Manzanillo. No entanto, fazendo algumas pesquisas, decidimos traçar um roteiro um pouco diferente e, ao invés de bater ponto nas praias mais famosas, conhecer alguns pedacinhos mais escondidos.

Além disso, ao invés de ir a cada uma das praias com o carro, optamos por fazer uma caminhada através das trilhas que ligavam umas às outras, sempre intercalando com alguns trechos pé na areia (ou pé na água, quando a maré começou a subir).

Eu havia lido que uma das praias mais charmosas da região era a Playa Chiquita. Não sabia bem como chegar até ela, principalmente porque alguns locais não possuem entrada muito bem definida, mas sabia que ela estava entre a Praia Cocles e Punta Uva. Também sabia que era possível ir andando entre as duas, apesar da distância não ser tão pequena.

Diante dessas informações, a escolha óbvia foi caminhar. Assim, além da nossa dose de exercício físico diária, ainda teríamos a chance de conhecer as outras praias pelo caminho. Colocamos as coisas na mochila e, munidos de câmera, binóculo, água e comida, começamos nossa caminhada. E que caminhada, viu?

Tive muitos dias deliciosos na Costa Rica, mas este, sem dúvida, foi um dos mais marcantes. Nós deixamos o carro estacionado na entrada da Playa Chasma e fomos andando por uma trilha até a Playa de Corales.

Ali, encantados com o mar, deixamos a trilha de lado e fomos caminhando pela areia, fazendo inúmeras pausas no caminho para apreciar as piscinas naturais, repletas de bichinhos fofinhos (ou nem tão fofinhos assim, se formos considerar os ouriços).

Confesso que não sabia se entrava na água ou tirava fotos. Todas as praias no caminho eram lindas, com aquela água translúcida que parece irreal. O cenário ficava ainda mais bonito em razão das pedras e corais, que adornavam toda a área, bem como diversas árvores. Algumas, inclusive, pareciam se derramar sobre as águas.

Demoramos mais de duas horas para chegar ao nosso destino, mas cada passo valeu a pena. Passamos pela Playa Escondida e Playa Vindas, até, finalmente, chegar à região conhecida como Playa Chiquita.

O passeio traduziu muito bem a ideia de que o caminho não deve ser visto apenas como um meio, mas como um objetivo em si mesmo. Se tivéssemos ficado guardando nosso entusiasmo apenas para o destino final, certamente não teríamos aproveitado tanto a nossa caminhada.

Além disso, tivéssemos simplesmente ido até a Playa Chiquita pela estrada, teríamos perdido a melhor parte do passeio, que foi descobrir todos os cantinhos escondidos da região. Não teríamos, por exemplo, encontrado uma estrela do mar. Tampouco teríamos dado de cara com uma arara, comendo frutinhos em uma árvore na areia. Também não teríamos conseguido avistar os peixinhos coloridos e uma impactante enguia.

Depois de andar bastante, escolhemos um lugar bem aprazível, com sombra e mar calminho, para ficar aproveitando nosso tempo. A água estava cristalina, quentinha e agradável. Eu, que não sou muito fã de ficar de bobeira na água, me rendi completamente.

Encerrado o nosso momento praia, voltamos para o início da caminhada e, de carro, fomos para a praia Punta Uva e Playa Manzanillo, que fica um pouco mais longe.

Ficamos algum tempo por lá e voltamos para a cidade, onde tomamos um café no Bread & Chocolat. Eu pedi um brownie com pedacinhos de cacau e Fellipe uma torta de coco. Depois do lanchinho, voltamos ao hotel para descansar, afinal esse negócio de caminhada na areia cansa mais do que a gente imagina.

À noite, saímos para jantar. O escolhido da vez foi o restaurante Sol Del Caribe. Pedimos peixe e um prato com carne de porco e vegetais. Estava tudo muito saboroso e, como sempre, o local era muito aconchegante, daqueles onde a gente se sente em casa logo que chega.

Aliás, se eu fosse definir Puerto Viejo através de uma alegoria, seria aquele lugar que te abraça. Tipo aqueles amigos que te chamam para entrar, oferecem um café e te fazem perder a noção do tempo, de tão boa que a companhia é.

Com o coração quentinho, fomos descansar, pois o próximo dia seria dedicado a Cahuíta, a etapa final da aventura.

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