Atacama: Piedras Rojas e Geysers Del Tatio

Quando decidimos que faríamos nossos passeios pelo Atacama com um carro alugado e não com os tours guiados, fizemos duas listas de locais a visitar: a primeira delas com os locais que faríamos por conta própria e a segunda com os locais que faríamos com agência.

Como não havia muito material na internet sobre o assunto e também porque não sabíamos exatamente o que esperar, deixamos os passeios mais longos e mais distantes de fora do nosso roteiro de carro.

Com isso, inicialmente, os passeios a Piedras Rojas, Lagunas Altiplânicas, Geysers el Tatio e Rota dos Salares seriam feitos com agências, que contrataríamos ao chegar em San Pedro. Além desses, o tour astronômico também estava na lista do que pretendíamos fazer contratando um guia.

No entanto, depois do primeiro dia no Atacama, notamos que era muito tranquilo fazer tudo por conta própria.

Em momento algum fomos desencorajados a conhecer os locais com o carro alugado. Inclusive, no nosso hotel, forneceram um folhetinho explicando o que era indicado fazer de carro, se essa fosse a opção.

Mais tranquilos em relação a isso, e já um pouco mais íntimos do deserto, decidimos tentar fazer os passeios em altitude (Piedras Rojas, Geysers e Rota dos Salares) por conta própria.

Piedras Rojas

O primeiro foi o passeio para as Piedras Rojas, no Salar Aguas Calientes. Em geral, ele é combinado com a visita às Lagunas Altiplânicas, mas elas estavam fechadas naquela semana. Como queríamos muito ir até Piedras Rojas, optamos por ir assim mesmo, já sabendo que não faríamos o passeio completo, por assim dizer.

O passeio toma o dia todo, pois Piedras Rojas fica longe de San Pedro. No entanto, é um dos passeios mais fáceis de fazer, basta seguir a Ruta 23, saindo de San Pedro. O lugar fica bem à margem da estrada, que é toda pavimentada e em boas condições.

Na noite anterior ao passeio, demos aquela checada nas informações, ajeitamos uma mochila com lanchinhos e água e fomos descansar.

Tomamos o café da manhã no hotel e fomos até a cidade comprar um sanduíche para levar, pois no trajeto não há opção de lanchonete ou restaurante. Compramos sanduíches em uma cafeteria chamada Café Andino e, por volta das nove e meia, partimos em direção a Piedras Rojas.

Já havíamos pesquisado na internet uma coisa meio curiosa sobre esse passeio. Lemos que os ingressos são vendidos em uma vilinha chamada Socaire, num pequeno escritório à beira da estrada, cerca de 60 km antes do local da visitação. Por isso, quem vai direto acaba tendo problemas, pois na recepção de Piedras Rojas eles não vendem ingressos.

Já cientes disso, geramos a rota até Socaire e fomos até o centro de atendimento para comprar nossos ingressos. O que não sabíamos é que, há pouco tempo, haviam mudado um pouco a logística. Os ingressos não eram mais vendidos presencialmente, devendo ser comprados obrigatoriamente pela internet, no site https://socairechile.cl . Mas, em uma lógica um tanto quanto confusa, ainda é obrigatória a validação dos ingressos presencialmente em Socaire, com uma hora de antecedência ao horário de visitação.

Como havia sinal de internet em Socaire, não tivemos problemas em comprar os ingressos pelo celular, informando a hora que pretendíamos visitar Piedras Rojas. Após a compra no site, recebemos um QR Code por e-mail para apresentar à atendente em Socaire, que fez o registro da nossa entrada no parque e nos entregou um papelzinho que deveria ser apresentado em Piedras Rojas.

O caminho de Socaire até Piedra Rojas leva cerca de uma hora. Óbvio que fomos parando para tirar algumas fotos, pois a estrada até lá é das mais lindas. Só não paramos mais pelo medo de perder nosso horário de entrada.

Se a estrada já é linda, Piedras Rojas então é espetacular, sem dúvida o meu lugar preferido do Atacama. A lagoa é impressionante, de um verde azulado cristalino, mas o que mais chama atenção são as cores das pedras em volta, contornadas pelas montanhas e pelas camadas de sal. A impressão que se tem é que estamos diante de uma montagem, uma tela com várias texturas e cores.

E a visão magnífica da chegada? Indo de carro temos aquela surpresa estarrecedora. Imagine só, você está curtindo a paisagem em volta, aquelas montanhas todas e, de repente, depois de uma curva, a paisagem marrom se torna vermelha, depois alaranjada e aí aquela lagoa azul vai se agigantando conforme você se aproxima.

Não sei como é a experiência de quem vai de van com as agências ou com guia, mas ir de carro nos proporcionou esse fator surpresa delicioso.

Em Piedras Rojas há uma portaria e alguns banheiros bem simples. O passeio em si consiste em uma trilha que percorre a lagoa e os entornos. Tudo é muito bem demarcado e há guias no local para evitar que alguém tente acessar áreas não permitidas.

É um passeio tranquilo, porque o trajeto da trilha é curto e plano. Mas como o local fica em uma altitude bem elevada, alguns passos são suficientes para que a gente acabe se cansando. O segredo é ir com calma, assim você pode aproveitar melhor a paisagem e evita qualquer problema com altitude.

Quando a gente olha Piedras Rojas de longe, fica tentando entender como é que, do nada, a paisagem muda e surgem lagoas, pedras coloridas e toda aquela imensidão branca de sal. Chegando bem pertinho, é possível perceber claramente que as pedras são bem porosas e parecem esfarelar com certa facilidade.

Inclusive, já vi alguns relatos de turistas que se aventuraram a caminhar fora das trilhas e acabaram sendo engolidos pelas pedras. Tá, tem uma pontinha de exagero aqui, mas de fato, alguns acidentes já aconteceram, principalmente porque há consideráveis crostas de sal e neve no local.

Lendo sobre o local, descobri que muito da cor avermelhada vem dos vulcões espalhados pela região. Com o tempo, os sedimentos vão se fixando no solo, criando várias camadas coloridas.

Nós fizemos nossa caminhada com calma, aproveitando para contemplar todos os detalhes. Tivemos a sorte de ir em um dia com pouco vento, então a água estava refletindo bem a paisagem. Durante nosso passeio, ainda vimos algumas vicunhas passeando tranquilamente pela encosta das montanhas, mas estavam muito longe e as fotos não ficaram tão boas.

Encerrado o passeio, voltamos ao estacionamento e, dentro do carro, fizemos nosso lanchinho. Voltamos para a Ruta 23 e, ao invés de começar o caminho de volta, seguimos em frente em direção à fronteira com a Argentina. Nosso objetivo era aproveitar que já estávamos ali para conhecer também a Laguna Tayajto, que fica alguns quilômetros à frente, mas ainda em território chileno.

Há um mirador na estrada para observação da laguna. Nós paramos nele, mas imaginamos que, seguindo adiante, poderia haver outros ângulos mais interessantes para as fotos. E não é que acertamos em cheio? Pouco depois do mirador há ótimos locais para admirar a laguna.

Conforme fomos nos afastando de Piedras Rojas, a estrada foi ficando praticamente deserta. O cenário, inclusive, lembrou muito a patagônia argentina. Não resisti à foto clássica sentada no meio da estrada.

Na volta, ainda demos sorte de encontrar grupos de vicunhas pastando tranquilamente na beira da estrada. Viemos parando para aproveitar a luz e observar os simpáticos bichinhos. Chegamos em San Pedro por volta das seis e fomos descansar.

À noite, fomos jantar no Jardin Meraki, uma mescla de barzinho e restaurante. Não ficamos muito por lá, apesar de ser um lugar bem agradável, pois o dia seguinte prometia aventuras na madrugada, então tínhamos que estar inteiros. Apenas jantamos e fomos para o hotel ajeitar as coisas.

Geysers del Tatio

Eis que chegou o dia de acordar cedo e ir conhecer os Geysers Del Tatio, um campo de origem vulcânica, com intensa atividade geotermal, que causa aquele efeito de água e vapor jorrando do solo.

Nós havíamos estudado um pouco sobre o local e sabíamos que o momento de mais atividade é quando o sol está dando os primeiros sinais, ali por volta das cinco e quarenta, pois nessa janela temporal há mais diferença de temperatura entre a água que está saindo e o ar do deserto.

Por isso, para chegar lá no ápice da movimentação termal, tínhamos que madrugar e sair bem cedo, principalmente porque o local fica a uns 80 km da cidade e a estrada é de chão.

Confesso que em relação a esse passeio eu estava um pouco apreensiva, pois a estrada era de cascalho, era longe e nós teríamos que ir antes do sol nascer. Ainda assim, decidimos tentar. E não é que deu certo?

Ainda no dia anterior, avisamos ao hotel que sairíamos de madrugada, pois haviam nos informado, durante o check in, que poderiam montar um kit de desayuno para viagem. Acordamos por volta das três e meia, ajeitamos as coisas, pegamos nosso café da manhã, que já estava embalado pela equipe do hotel e partimos.

Já na saída da cidade, vimos que várias outras pessoas seguiam pelo mesmo caminho, certamente na mesma intenção que a gente. Isso já nos deixou mais tranquilos, afinal, se algo acontecesse, não estaríamos sós.

Óbvio que fazer o trajeto no escuro não é tarefa das mais fáceis, ainda mais porque é uma estrada com curvas, pedras meio soltas e valetas. Definitivamente, não é um passeio que qualquer um deva tentar fazer por conta própria.

No nosso caso, foi um pouco mais simples porque estamos um pouco acostumando com estradas ruins, inclusive com o fato de trafegar por estradas de chão. Mas se você não tem essa experiência, eu recomendo que pense em contratar o passeio com agência.

Nós não tivemos nenhuma intercorrência. O caminho em si é bem simples. Basta seguir o fluxo dos diversos carros e vans de turimos pela rodovia B-245. Chegamos ao local por volta das cinco e pouco, compramos ingressos, preenchemos os formulários e as cinco e meia já estávamos andando pelos geysers.

Estava frio, muito frio. Na hora em que descemos do carro o termômetro marcava -3°C. Conforme o sol foi nascendo foi ficando mais agradável, mas aqueles primeiros minutos foram sofridos.

A área dos geysers é bem grande. Mas há alguns pontos em que os turistas se concentram mais, pois os guias das agências já sabem onde há mais chance de ocorrer jatos maiores de água.

Por falar em jatos de água, não vá esperando ver aquelas cenas de desenhos animados, com jatos de vários metros de altura. Isso pode até acontecer. Mas, pelo que lemos, a atividade ali no Tatio costuma ser bem mais modesta.

Há duas áreas diferentes lá. Uma delas, que fica bem no fim do caminho, é onde vimos mais atividade assim que chegamos. Há várias “pocinhas” fumegantes que ficam borbulhando o tempo todo. Foi lá que, logo durante o nascer do sol, vimos alguns jatos de água.

A outra área, a poucos metros de distância, tem trilhas um pouco mais demarcadas entre os geysers e vestiários. Lá, até alguns anos atrás, funcionava também uma piscina termal, com água rica em minerais duvidosos vinda diretamente do subsolo vulcânico da região. E pasmem. Era bem popular.

Se engana quem pensa que a única diversão é assistir grandes jatos de água serem expelidos no ar. A fumaça de enxofre subindo das bolhas na água conferem aquele ar de mistério, que contrasta com as cores do nascer do sol. Os geysers ficam em um local bem alto, mas que ainda acabam ladeados por montanhas mais altas ainda. Se é para madrugar e ver o sol nascer, que seja em um lugar assim.

O lugar é longe, faz um frio daqueles, mas é um passeio que vale muito a pena. A atividade geotermal é considerável e acredito que para quem nunca viu algo assim, deva ser espetacular. Mesmo para nós, que já tivemos uma experiência parecida na Nova Zelândia, foi muito interessante.

Visita feita, voltamos para o carro e começamos o trajeto de retorno. Foi apenas na volta que percebemos o quanto a estrada é bonita (e com muito mais curvas do que parecia).

Paramos à beira da estrada para tomar nosso café da manhã em um lugar bem gostoso, com uma vista linda. De lá, seguimos ate o vilarejo de Machuca, uma vilinha composta por algumas casinhas e uma igreja bastante fotogênica.

Assim que estávamos nos aproximando do local, uma moradora local nos parou, forneceu um folheto com informações do lugar e nos convidou a dar uma paradinha na vila para conhecer. Achei uma abordagem muito simpática.

Paramos no estacionamento e fomos até uma lanchonete bem no centro do povoado. Lá, há algumas opções de lanche, como espetinho de lhama (tadinhas) e pastel de queijo de cabra. Tomamos um café e experimentados os pastéis, que estavam deliciosos.

Continuamos nosso retorno fazendo algumas pausas pelo caminho, em especial no Bofedal Vado Putana, que constava como sugestão de visitação no folheto que recebemos em Machuca.

Um bofedal é um ecossitema típico dos andes. Como um pântano em meio às áridas montanhas. É muito interessante, pois destoa completamente do restante da paisagem e, por ser úmido e ter vegetação, em geral sempre há aves e outros animais por lá. No Vado Putana, inclusive, havia muitos patos e flamingos.

Depois da pausa, continuamos nosso trajeto de retorno. Claro que com várias paradas para fotografar nossos já amigas vicuñas. Chegamos em San Pedro mais ou menos na hora do almoço e aproveitamos a tarde para descansar.

Até pensamos em passar a tarde nas Termas de Puritama, atração famosa na região, mas acabamos desistindo. Trocamos o passeio por um café no Roots Cafe, bem pertinho da rua Caracoles e fomos descansar um pouco, pois acordar de madrugada havia sido um pouco cansativo.

Mais tarde, a fome apertou novamente e escolhemos repetir o Rincón Del Sal, já que a experiência anterior havia sido muito boa. Mais uma vez, foi uma escolha acertada. Além da comida muito saborosa, o lugar é bem aconchegante e descontraído. Super recomendo a visita.

De volta ao hotel, fomos aproveitar a noite olhando as estrelas, que são um espetáculo à parte. O hotel conta com um pequena torre para observação e nem as luzes atrapalharam a grandiosidade do momento.

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