Atacama: Rota dos Salares e Tour Astronômico
Era nosso último dia no Atacama e não podíamos encerrar de outra forma senão desbravando o deserto.
Ainda durante nossas pesquisas para a viagem, descobrimos que, até um tempo atrás, as agências de turismo no Atacama ofereciam um passeio chamado Salar de Tara. No entanto, como o local conhecido como Salar de Tara (o principal ponto visitado no passeio) foi fechado para visitação, o percurso teve que ser adaptado e passou a se chamar Rota dos Salares.
Por conta das experiências positivas que tivemos fazendo os outros passeios na região por conta própria, como contamos no primeiro post, resolvemos fazer nossa própria Rota dos Salares.
Como já havíamos pesquisado a respeito dos pontos geralmente visitados pelas agências neste roteiro, não foi difícil encontra-los no Google Maps.
Então, na noite anterior, marcamos no mapa todas as paradas, estudamos sobre cada uma delas e colocamos em prática nosso plano aventureiro.
Vale lembrar que não há sinal de telefone em praticamente nenhum ponto dessa rota. Por isso, ainda no hotel, fizemos o download do mapa de toda a região no Google Maps, para poder gerar rotas em qualquer lugar sem depender de internet.
Nosso roteiro incluiu o seguintes pontos: Mirador para o vulcão Licancabur, Mirante da Ruta 27, Mirador Quebrada Quepiaco, Mirador Salar de Pujsa, Monges de La Pacana, Mirador Pacana Caldera e Mirador Salar de Loyoques.
Planejamento feito, mochilas ajeitadas e carro abastecido. Prontos para o início da nossa despedida do Atacama. Além dos nossos lanchinhos de sempre, levávamos conosco bastante água e um mundo de expectativas. Não era para menos: estávamos prestes a conhecer uma parte da enigmática Cordilheira dos Andes.
Saímos da cidade por volta das nove da manhã, sob aquele céu azul sem precedentes. Como tínhamos bastante tempo para fazer o passeio, optamos por parar em alguns pontos na ida e em outros na volta, escolhendo a ordem de acordo com a incidência da luz.
Nossa primeira parada foi no Mirador do Vulcão Licancabur. Já havíamos visto o vulcão a partir de vários pontos da região, pois ele é quase onipresente na paisagem. Mas é nesse passeio que é possível chegar mais perto dele, então só por isso já vale a pena. O vulcão é muito imponente, de uma beleza quase opressora, ainda mais quando se observa a paisagem no entorno. Não nos demoramos muito no mirante, pois já planejávamos parar com mais calma na volta. Tiramos algumas fotos e seguimos nosso caminho.
A esta altura já deve ter ficado meio óbvio, mas as estradas são belíssimas. A cada curva um cenário mais espetacular nos era apresentado e quando achávamos que nada mais poderia nos surpreender, o deserto se agigantava à nossa frente. Foi exatamente essa a sensação de olhar para aquela imensidão através dos mirantes espalhados pela rota.
E o que dizer quando, de repente, do nada, a areia dá lugar a um lago? Não apenas isso, um lago coberto por vegetação, que serve de refúgio aos animais que fazem do deserto o lar. Eis a magia de mais um bofedal, que pode ser visto de pertinho no mirador Quebrada Quepiaco. Quando passamos por lá na ida o local estava mais calmo, por assim dizer. Na volta, diversos animais estavam por lá, tornando o lugar ainda mais lindo.
Nosso passeio incluiu também observar o Salar de Pujsa e as formações rochosas conhecidas como Monges de La Pacana. Confesso que, apesar de as formações serem bem diferentes, ainda mais porque se destacam na planície, não consegui achar muita semelhança com monges. Talvez me falte um pouco de imaginação, mas independentemente disso, é lógico que é uma paisagem deslumbrante.
Ali, bem perto, há ainda o mirador Pacana Caldera, que dá bem a dimensão do lugar. Curioso é pensar que grande parte das formações que são vistas à partir dele e no entorno estão dentro de uma mega cratera vulcânica.
Confesso que fiquei bastante impressionada com este mirador, especialmente porque, ao mesmo tempo que era possível observar os tons esbranquiçados dos salares e das montanhas cobertas de neve, víamos também águas com tonalidades esverdeadas e azuis. No Pacana Caldera, inclusive, me chamou muita atenção a lagoa de águas azul petróleo. Achamos o lugar tão bacana que tiramos fotos na ida e, na volta, paramos novamente, aproveitando cada detalhe.
Seguindo nosso roteiro, o último ponto foi o Mirador Salar de Loyoques. Assim como os demais, ele fica bem ao lado da estrada. A diferença é que ele está no alto, possibilitando uma vista privilegiada do salar e das montanhas que o emolduram. Aproveitamos para tirar algumas fotos e lá mesmo fizemos nosso lanche.
Como dá para notar, a rota dos salares não é um passeio que envolve trilhas ou caminhadas. Todos os miradores são à margem da estrada, de modo que você estaciona, desce, tira algumas fotos e volta para o carro. Justamente por isso, apesar de ser um trajeto longo e em altitude bem elevada, não há muita complicação.
Lógico que se trata de um passeio que envolve trafegar pelos Andes, em área totalmente despovoada e na maior altitude que já estivemos na vida fora de um avião (chegando perto dos 5 mil metros). Não há qualquer tipo de comércio, vilarejos ou postos de combustível. Por outro lado, o trajeto é todo asfaltado e a estrada estava em excelente estado de conservação. Como ainda faltava muito para o inverno, também não havia gelo na pista.
Obviamente, também não há banheiros. Para piorar, sequer há moitinhas para improvisar um banheiro ancestral. Mas viajante que é viajante sempre dá um jeito, então, para pessoas sem frescura, isso não é um problema.
Nosso passeio, entre ida e volta, demorou mais ou menos umas seis horas, pois fomos parando durante o trajeto. Chegamos à cidade de tarde, comemos deliciosas empanadas no Empório Andino e fomos para o hotel deixar as coisas e dar uma descansadinha. A luz estava tão linda que aproveitamos para tirar algumas fotos do Vulcão Licancabur, visto diretamente da estrada que dá acesso ao nosso hotel. Isso é que é luxo!
Nosso plano até era ficar no hotel por algumas horas para descansar, mas sabe como é: último dia, vontade de fazer o tempo passar mais devagar pra conseguir encaixar tudo dentro de poucas horas. Imbuídos nesse espírito, ao invés de ficar de bobeira, resolvemos aproveitar o restinho de luz para ver o pôr do sol do Mirador Likan- Antay, que fica bem pertinho da cidade.
Chegamos lá bem no fim da tarde, mas valeu muito à pena. Já devo ter dito em algum outro momento, mas as cores no Atacama são fora da curva. Enquanto o sol estava sem pondo de um lado, um arco íris de sombras e tons azulados e avermelhados coloria a cordilheira. Não à toa, muita gente se junta para assistir ao pôr do sol ali.
Assim que começou a anoitecer, voltamos para a cidade e fomos fazer outro passeio muito esperado da viagem: o tour astronômico. Esse foi único dos nossos passeios feito com agência, pois eles fornecem os telescópios, podem dar explicações mais detalhadas e também levam até um local mais apropriado para observar as estrelas.
Nós tentamos reservar o tour com a agência Araya (da qual tínhamos ótimas recomendações), mas já estava esgotado. Acabamos fechando com a Horizonte e foi uma boa experiência. Já havíamos comprado o passeio no dia anterior e, na hora combinada, sete da noite, chegamos na sede da agência. Aguardamos alguns minutos até que uma van nos levou até um local bem distante da cidade, para fugir da interferência de luzes.
Lá, com os celulares desligados, sem lanterna ou qualquer luz próxima, o céu do Atacama se mostrou em toda sua majestade.
Eu sou completamente deslumbrada com o céu. Desde criança tenho um fascínio por estrelas, lua, nascer e por do sol. Já tive o privilégio de ver céus lindos, como a maravilhosa experiência que tivemos na Espanha. Mas o céu do Atacama é outra coisa.
Já havíamos gastado vários minutos observando as estrelas da torre do nosso hotel. Mas o tour em um local distante da cidade, com a possibilidade de observar estrelas, constelações, nebulosas, foi além das minhas expectativas. Fizemos a observação, tiramos fotos e ainda tivemos um delicioso lanchinho, com direito a vinho.
Por volta das dez e meia da noite a van foi nos buscar e logo depois já estávamos no conforto do lodge, ainda boquiabertos com a experiência surreal, quase mística. Se há forma mais marcante de se despedir do deserto, desconheço. Arrumamos as malas antes de dormir e deixamos tudo prontinho para nossa partida na manhã seguinte.
Demoramos para ir ao Atacama, mas a espera valeu a pena. Se havia uma certeza é a de que um dia nós iríamos para lá. Tivemos a pandemia no meio do caminho, nossos planos mudaram mais de uma vez, mas, enfim, o que era mais um item na lista de desejos se tornou realidade.
Não tenho palavras para descrever o quão impactante a viagem foi na nossa vida. As paisagens extremas, dramáticas e belas ao mesmo tempo, são muito marcantes. Além disso, a vida difícil e a resiliência das pessoas, somadas à simpatia e receptividade, são lições que não esqueceremos. O Atacama não é só um destino, é uma experiência capaz de mudar nossa percepção sobre a vida.