Desvendando os segredos de Cuenca

A cidade de Cuenca não apareceu no nosso roteiro por acaso. Há tempos já tínhamos vontade de visitar, muito antes até de começar a planejar a viagem para a Espanha. A cidade é peculiar, emblemática e um tanto misteriosa. Quer melhor que isso?

Pode até ser que grande parte destes adjetivos sejam frutos da minha fértil imaginação, mas leia o post e veja as fotos. Então, me diga se não é fácil imaginar dragões voando pelo vale.

Delírios imaginativos à parte, a cidade de Cuenca é mesmo excepcional. Ela está localizada bem na confluência de dois rios, o Júcar e Huecar. Em razão disso, a cidade está às voltas com desfiladeiros enigmáticos, que fazem minha mente viajar (aqui entra a parte dos dragões).

A cidade é pequena, possui menos de 50 mil habitantes. É composta por uma área mais comum, localizada na parte baixa, e um centro histórico, ladeira acima. Na parte histórica estão as principais atrações turísticas, como pequenos museus, a Catedral, o Parador e as Casas Colgadas, construções praticamente penduradas em um penhasco.

Como queríamos estar em Cuenca durante a noite, até para ter fotos noturnas das Casas Colgadas, optamos por dormir uma noite na cidade. Sem dúvida foi uma das melhores escolhas que fizemos, pois conseguimos passear com tranquilidade.

Nós saímos de Madrid de trem, por volta das 10h, e chegamos em Cuenca perto do meio-dia. Na estação de trem, que fica fora da cidade, pegamos um ônibus, que nos deixou bem pertinho do nosso hotel.

Optamos por ficar em um hotel na parte baixa da cidade, pois não sabíamos bem como era a questão de transporte. Ir subindo ladeira com mala não parecia uma ideia muito boa. Nossa escolha foi o hotel NH Ciudad de Cuenca, reservado com antecedência pelo Booking.

De toda forma, depois de chegar na cidade descobrimos que há ônibus até a parte antiga. Aliás, o mesmo ônibus que nos trouxe da estação de trem. Então, é tranquilo se hospedar no centro antigo e levar as malas no ônibus.

Ainda assim, não acho que nossa escolha quanto ao hotel tenha prejudicado o passeio. Foi bem fácil subir ao centro histórico e o hotel era muito confortável. Assim que chegamos, fizemos o check in, deixamos as bagagens no quarto e já saímos para passear, munidos de um mapa fornecido pela gentil recepcionista do hotel.

Pegamos um ônibus, que nos deixou na Praça Central, onde fica a Catedral de Cuenca. É justamente neste bairro que ficam as casas colgadas, encarapitadas no penhasco por trás da enorme catedral. Não chegamos a ir até elas porque o bacana não é necessariamente estar nelas, mas sim avistá-las de longe. Só assim é possível ter dimensão da loucura dos idealizadores.

Com isso em mente, passeamos um pouco pelo bairro e subimos por ruas estreitas e simpáticas até o Barrio Del Castillo. No caminho fomos parando em vários mirantes com vistas espetaculares, até chegar ao Mirador Casas Colgadas.

Lá, ficamos admirando a vista e o antigo Convento de San Pablo, onde hoje funciona um hotel. Como o Mirador fica em um ponto mais elevado que a cidade, bem no topo de uma das encostas, é possível ver de cima a paisagem completa, com a cidade, a ponte e o convento.

Já passava das três da tarde e estávamos com fome. Então, almoçamos em um dos vários restaurantes dispostos ao longo da rua do Mirador. A comida era simples, mas estava excelente. Pedimos um menu completo, com primeiro e segundo prato e sobremesa. Valeu muito a pena.

Encerrada a refeição, era hora de descer a ladeira. Ao invés de voltar pelo mesmo caminho, por dentro da cidade, optamos por descer através de uma trilha, a Senda del Hocino de Federico Muelas, que te coloca praticamente dentro do desfiladeiro. Essa trilha desce pelo lado de fora da cidade, descendo o vale enquanto contorna os paredões de pedra do Mirador até a Ponte San Pablo.

A Ponte San Pablo, cartão postal da cidade liga as Casas Colgadas ao antigo Convento. É através dela que os turistas geralmente atravessam o abismo.

Infelizmente, parte do calçamento no entorno da ponte estava em obras, então estava tudo fechado. Não dava para atravessar a ponte, muito menos ir até a frente das Casas Colgadas pela trilha. Nós já sabíamos disso antes mesmo de começar a caminhada, então colocamos em ação o plano B. Ao invés de atravessar o desfiladeiro pela ponte, caminhamos um pouco mais, descemos pela trilha e atravessamos a rodovia que corta o vale.

Obviamente, seria mais glamoroso atravessar pela ponte, mas não dá pra ter tudo. Estávamos em Cuenca, havíamos feito uma trilha perfeita, o dia, apesar de nublado, estava muito agradável, então não havia como reclamar de absolutamente nada.

Além disso, atravessar pelo fundo do vale nos permitia ter uma visão das casas colgadas por baixo, que mostra bem o quanto a expressão penduradas é adequada pra elas.

Depois de uma curta caminhada pela margem da estrada, chegamos ao topo da colina. Antes mesmo de chegar ao convento já tiramos várias fotos da cidade pendurada sobre o vale. Mas, chegando lá, as luzes da cidade já estavam acesas, montando um cenário perfeito para as fotos noturnas que queríamos fazer.

O tempo foi passando, a noite foi caindo e frio foi chegando com força. Não sei exatamente a temperatura que fazia, mas acredito que se aproximava de dois ou três graus. Apesar das roupas quentinhas, não dava pra ficar sob a gelada garoa que caía. Assim, motivados pelo frio, optamos por descer e retornar para o hotel.

Como ainda era cedo, ao invés de buscar algum transporte público, decidimos ir a pé até o hotel. Cada rua que cruzávamos mostrava o quanto a cidade é adorável. Caminhar por ela foi como degustar, bem devagar, um vinho marcante. Não sei vocês, mas quando caminhamos pelas cidades parece haver mais conexão com o lugar. É como se por alguns instantes fizéssemos parte daquele cenário.

De passo em passo, depois de uns quarenta minutos, chegamos ao hotel. Um pouco cansados pelo dia movimentado, mas muito reconfortados pelas aventuras e experiências vividas. Não nos deparamos com dragões no desfiladeiro de Cuenca, mas sem dúvida fomos imersos em uma atmosfera medieval inesquecível. Apesar do frio que fazia, sempre me lembrei de Cuenca como a cidade que aqueceu meu coração aventureiro e sonhador.

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