Atlanta

Planos, melhor tê-los ou não tê-los? A resposta? Depende.

Eu queria porque queria ir para o Atacama. Fatores alheios à minha vontade (leia-se passagens proibitivas), acabaram me fazendo mudar de ideia e o Atacama ficou para outro momento. 

Além disso, tínhamos algumas milhas que iam expirar. Então unimos os imprevistos e ajustamos, de última hora, uma viagem para os Estados Unidos.

Depois de muito quebrar a cabeça tentando ajustar a disponibilidade de passagens com as datas de férias, escolhemos passar alguns dias em duas cidades desconhecidas pra gente: Atlanta e Washington DC. Assim, no susto, sem muito planejamento prévio, embarcamos para Atlanta no final de 2022.

Atlanta não está na lista dos principais destinos turísticos dos brasileiros, apesar de ficar bem perto da Flórida. O fato é que Atlanta é uma cidade e tanto. Não à toa, é a capital do estado da Geórgia.

Foi em Atlanta que a Coca Cola nasceu, houve uma edição dos jogos olímpicos na cidade e o lugar foi lar de ninguém menos que Martin Luther King. Só por isso uma visita já estaria mais que justificada. Mas Atlanta não tem “somente” esses atrativos.

Toda a questão histórica e cultural está entremeada com uma excelente estrutura turística e um ambiente muito acolhedor. Bateu curiosidade sobre a cidade? A gente te conta tudo a partir de agora.

Nosso voo, pela Copa Airlines, saiu de Brasília de madrugada e, por volta das 15h, já estávamos em Atlanta. Do aeroporto, seguimos de metrô até a estação Midtown, já nas imediações do apartamento que havíamos reservado. Terminamos o trajeto a pé, em uma curta e agradável caminhada de 6 quadras.

A primeira impressão da cidade não poderia ser melhor. O tempo estava agradável, com aquele friozinho típico do final da estação. Tudo isso ficou ainda mais encantador com os tons amarelo avermelhados das árvores. Para quem não tem estações tão bem definidas em casa, o outono é sempre de encher os olhos.

O apartamento que reservamos ficava em um charmoso bairro chamado Midtown, relativamente perto do centro, mas muito mais aconchegante. É um bairro divertido, colorido, cheio de restaurantes simpáticos. 

Não poderíamos estar melhor localizados. Aliás, a localização foi só uma das vantagens. O lugar era uma graça. Confortável, limpo, exatamente como observamos nas fotos antes de reservar. 

Deixamos as coisas no apê e saímos para dar uma volta pelos arredores. Nossa primeira parada foi um supermercado, pois como iríamos ficar alguns dias na cidade, resolvemos abastecer a geladeira e aproveitar que o apartamento tinha uma cozinha super equipada. Aliás, se eu pudesse, compraria um fogão igual ao do apartamento e traria para casa.

O supermercado mais perto de onde estávamos era o Publix, então foi para lá que nos direcionamos. Não era do ladinho, mas deu para comprar umas coisinhas e carregar sem problemas. Acabamos fazendo um lanche em “casa” mesmo, pois ainda estávamos um pouco cansados da viagem.

No outro dia acordamos cedo, fizemos nosso café da manhã e seguimos até o centro de Atlanta. Nossa primeira parada foi o Centennial Olympic Park, um parque muito emblemático, bem no miolinho da cidade.

O parque foi construído em comemoração aos Jogos Olímpicos de 1996, que marcavam os 100 anos dos Jogos Olímpicos Modernos. Tem uma grande área gramadas e fontes, onde as pessoas costumam se refrescar no verão.

Não era verão. O dia estava bastante nublado, mas ainda assim deu para curtir um pouco o parque.

A região do Centennial Park concentra ainda várias outras atrações turísticas da cidade, grande parte delas agrupada em torno do Pemberton Place, uma praça onde ficam o Aquário da Geórgia, o Museu Nacional para os Direitos Civis e Humanos e o Mundo da Coca Cola.

Quem é leitor do blog já sabe qual foi nossa primeira parada nessa praça: o Aquário da Geórgia.

O aquário é enorme, acho que o maior que já vi. É um passeio imperdível, mas pode reservar pelo menos umas quatro horas para ficar lá. Além de muito bem cuidado e organizado, é possível ver espécies muito peculiares, como o tubarão baleia, assustadoramente grande (e inofesivo), bem como assistir aos espetáculos.

Aproveitamos e lá mesmo compramos o citypass, que dá acesso a várias atrações da cidade. Para nós, compensou bastante, pois muitos dos lugares que queríamos visitar estavam incluídos no passe. De qualquer forma, sempre vale a pena dar uma checada antes no site do Citypass e comparar com o preço individual das entradas nas atrações que quiser visitar.

Encerrado o passeio pelo Aquário, fomos até o Museu da Coca Cola, que fica do ladinho. A famosa bebida foi criada em Atlanta e o museu retrata todo o processo, inclusive mudanças que ocorreram ao longo do tempo. No final do passeio, dá para provar todas (ou quase todas) as bebidas da marca, espalhadas por diversos lugares do mundo.

Infelizmente, como já havíamos gastado grande parte do dia no Aquário, nós fomos bem perto do horário de fechar, então tivemos que acelerar um pouco o passeio. Ainda assim, é bem interessante e vale muito a visita.

Quando saímos do museu, já estava começando a anoitecer, então voltamos para o apartamento. No caminho, paramos no Five Guys para fazer um lanchinho (que saudade daquelas batatinhas).

O dia seguinte começou com nosso típico café da manhã de viagem: ovos, bacon e frutas. Devidamente alimentados, fomos caminhando até o Piedmont Park. Andamos por lá, com direito a várias paradinhas para fotos, tomamos um café e seguimos para o vizinho Botanical Garden.

A entrada no Jardim Botânico não é barata e não está incluída no Citypass, mas eu sou a doida das plantas, então não ia deixar de ir lá né? É um jardim muito bonito, mas não estava em seu melhor momento, até em razão da estação do ano. Ele conta com diversas passarelas que passam sob e entre as copas árvores, fontes e uma escultura super famosa, a Deusa da Terra. Na primavera, ela fica toda colorida, mas mesmo no outono estava linda.

Encerramos o passeio pelo jardim por volta das 14h e, de Uber, fomos até o Krog Street Market, um lugar muito bacana, todo descolado, que tem muitas opções de restaurantes. Almoçamos uma pizza deliciosa da Varuni, tomamos cerveja e depois experimentamos o sorvete da Jeni’s Splendid Ice Creams. Estava tudo delicioso.

Do mercado, fomos caminhando até o Martin Luther King Jr. National Historical Park, a região onde Martin Luther King nasceu e viveu e que, em 1980 foi designada como Parque Nacional. Passamos em frente à casa onde ele naceu e morou durante a infância e seguimos para o memorial. Sem dúvidas um ponto alto para quem visita Atlanta.

No memorial, a água deslizando sobre degraus não poderia ser mais representativa, ainda mais porque, em cada desnível, há um trecho de uma das partes do famoso discurso “I have a dream”, proferido em 1963: We will not be satisfied until justice rolls down like waters and righteousness like a mighty stream (em português, algo como: nós não estaremos satisfeitos até que a justiça corra como água).

Não bastasse a força dessa mensagem, pelos quatro cantos dos arredores o sistema de som entoa o discurso. É de arrepiar. 

Além do memorial, há também o museu, que vale muito a visita. É um lugar simples, mas bastante profundo. Não há como não se emocionar, é um misto de orgulho pela luta que ele travou, mas também indignação e revolta, porque às vezes parece que a luta foi em vão.

Foi uma sensação muito parecida com a que tive quando visitei o Museu do Apartheid, na África do Sul. Por mais que batalhas sejam travadas, a humanidade parece retroceder. Da prisão de Nelson Mandela ao assassinato de Luther King, a impressão que tenho é que nunca aprendemos o suficiente. Quantas vidas mais vamos perder? Não falo dos grandes nomes, que abdicaram de tudo por uma causa. Falo dos Joãos e Marias, que ainda são invisíveis, que viram números em estatísticas cada vez mais tristes. Que o sonho de Luther King, um dia, deixe de ser só um sonho…

“Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos descendentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor da opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça. Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!”

Saindo de lá, decidimos ir à pé até a estação de trem King Memorial, que não estava tão perto quanto havíamos imaginado. Estavam acontecendo eleições em grande parte do país e, durante o percurso, passamos em frente a um local de votação. Vimos várias pessoas nos arredores, se certificando de que todos que quisessem poderiam exercer o direito ao voto. A luta continua. Enquanto houver injustiça, essa luta não esmorece.

Passei grande parte da tarde pensando em tudo que vimos pela manhã. Não consigo simplesmente achar bacana e seguir a vida. Essa coisa da indignação faz parte de quem eu sou. Ainda bem!

No outro dia, depois do tradicional café no apê, voltamos de metrô à King Memorial Station. Desta vez para pegarmos um ônibus que nos levaria até as proximidades do Zoo de Atlanta.

O ingresso do zoológico estava incluído no Citypass, por isso fizemos questão de visitar o lugar. Ficamos por lá umas três horas. Foi um passeio ok. Não gosto muito de zoológicos, então não posso colocar a culpa no lugar em si, mas achei meio mal cuidado. Lógico que não é um passeio totalmente em vão. Vi um mico leão dourado ao vivo pela primeira vez na vida, além de pandas e muitos outros bichinhos simpáticos.

Saímos do Zoo e pegamos um ônibus que nos deixou bem pertinho do Ponce Market. Que lugar meus senhores, que lugar! A região tem uma cara de fábrica antiga, mas com uma pegada toda moderninha. No interior, há muitas lojas e restaurantes, um mais bacana que o outro.

Escolhemos um restaurante cubano chamado El Super Pan, com sanduíches excelentes. Para acompanhar, compramos uma cerveja no The Tap on Ponce. Nosso almoço foi espetacular.

Encerrado o almoço, ficamos um tempo andando pelo lugar e, em seguida, fomos para a parte de compras do nosso dia. Fomos a um centro comercial nas proximidades, onde fizemos o tour pelas lojas de sempre. Além disso, fomos até o Whole Foods, que eu amo desde a primeira ida aos Estados Unidos. Então, pegamos um ônibus e voltamos ao apartamento.

O dia seguinte foi dedicado ao Museu de Ciência Natural, o Fernbank Museum of Natural History. Ele não fica pertinho do centro, mas dá para ir de ônibus tranquilamente. Passamos praticamente o dia todo por lá, visitando as exposições e passeando por sua bonita área externa. Para quem gosta de museus, vale a visita. Só não vá esperando um Museu de História Natural de Nova York, pois o de Atlanta é muito mais modesto.

Mesmo assim, a quantidade de maquetes de dinossauros expostas é impressionante, com montagens simplesmente gigantescas logo na entrada do museu. Há também alguns vídeos educativos muito interessantes para os pequenos (e para os adultos curiosos também).

Nosso último dia em Atlanta chegou e, para encerrar em grande estilo, escolhemos o Museu de Direitos Civis e Humanos. Sem dúvida um passeio imperdível. O museu é muito bonito, com exposições emblemáticas. Fica na mesma praça do Aquário e do Museu da Coca Cola, de fácil acesso. O ingresso também estava incluído em nosso passe.

Ficamos algumas horas por lá, depois fomos ao Whole Foods para um lanchinho de despedida. À tarde, dissemos adeus à nossa casa em Atlanta e seguimos para o aeroporto, de onde saímos com destino a Washington.

Pelo texto já dá para notar, mas faço questão de registrar: Atlanta foi uma surpresa maravilhosa. Uma cidade grande, com jeitinho de interior. Excelente para caminhadas, cheia de história e contradições que instigam a gente a se questionar. Foi espetacular e não vejo a hora de voltar.

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