Córdoba: nosso primeiro destino na Andaluzia

Não há como falar da Andaluzia sem se emocionar. É uma recordação entremeada de suspiros e saudade. Uma região linda, acolhedora e extremamente diversificada culturalmente. Tudo fruto de uma história de conquistas e reconquistas impressionante.

Quando pensamos em ir para a Espanha, lá em 2019, não havíamos incluído a Andaluzia no roteiro, pois queríamos conhecer apenas Madrid e Barcelona. Conversando com uma amiga em meados de 2021 é que essa ideia foi tomando forma. Fiquei impactada pela descrição dela sobre a região e isso não me saiu mais da cabeça.

De fato, a Andaluzia é totalmente diferente de tudo o que eu já vi. A expressão artística, que remonta à época em que a região foi ocupada pelos Mouros, é impressionante e nos leva a outro mundo.

Para entender um pouco do quão complexa é a questão, é importante mencionar que a Andaluzia ficou muito anos sob o império Mouro e foi a última parte da Espanha a ser reconquistada pelos Cristãos.

Justamente por isso, a cultura islâmica é muito presente. Mais que isso, há muito da cultura e do estilo chamado Mudéjar, decorrentes das obras das pessoas que ficaram no local mesmo depois da reconquista.

Então, por todos os lugares que se olha há elementos mudéjares, grandes fortificações militares (alcazares), mesquitas e catedrais. Na maior parte dos casos, as Catedrais já foram mesquitas, sendo patente a junção de elementos culturais.

Não bastasse toda essa riqueza decorrente das sucessões de poder, ainda há uma gastronomia muito peculiar, baseada em ervas aromáticas e azeites maravilhosos.

Aliás, as plantações de azeitona são especialmente bonitas e estão por toda parte, cobrindo de um esverdeado prateado as colinas e montanhas.

Passeando por Córdoba

Começamos nossa aventura pela Andaluzia pela cidade de Córdoba, a capital da província que leva o mesmo nome. É uma cidade pequena, mas de uma importância gigante, já que ela teve bastante destaque tanto no império Romano quanto islâmico, sendo ainda um ponto de acolhida dos Judeus. Bem por isso ela é chamada de cidade das três culturas.

Quando líamos sobre as sugestões de roteiros para a região, percebemos que muitas pessoas fazem apenas uma parada em Córdoba, as vezes passam uma tarde por lá e já seguem para Sevilha, que é uma cidade bem maior, com um mundo de coisas para ver.

Ocorre que, tendo essa fama de multiculturalidade, Córdoba não podia ser apenas um pit stop na nossa viagem. Assim, optamos por fazer diferente e resolvemos ficar uma noite na cidade, até para sentir o clima do lugar com mais calma.

Olha, posso dizer que esta foi uma decisão muito acertada. Mais que isso, acho que eu poderia ficar muito mais tempo lá. Meu amor por Córdoba foi fulminante, à primeira vista.

Nós saímos de Cuenca de trem por volta do meio dia e fomos até Madrid, pois não há trens diretos entre Cuenca e Córdoba. Com isso, fizemos uma espécie de “baldeação” na estação de Madrid. Chegamos, descemos do trem, fizemos um rápido lanchinho na estação e já fomos aguardar o próximo trem, que nos levaria até Córdoba.

A viagem entre Madrid e Córdoba durou aproximadamente duas horas e foi bem tranquila. Saímos às 14:35 e chegamos em Córdoba por volta das 16:20. Como sempre, o trem chegou na hora certinha e era bem confortável. Deu até para tirar um cochilo no trajeto, então chegamos à cidade bem descansados, prontos para mais um dia cheio de novidades.

Assim que chegamos na estação fomos para o Hotel. Poderíamos ter ido de ônibus, mas decidimos ir andando mesmo, pois não estava longe. O fato de estarmos com as malas dificultou levemente o percurso, mas nada muito sério. Em uns 15 minutinhos já estávamos no Hotel NH, também reservado pelo Booking.

O Hotel é um pouco velho, mas era confortável e fica praticamente dentro do bairro chamado de Juderia, que é lindo e foi minha parte preferida da viagem. É nessa região, cheia de ruazinhas estreitas com casas históricas que, entre os séculos X e XV viviam os Judeus. Hoje, concentra vários pontos bacanas para visitar, além de ótimos restaurantes de culinária local. Então, apesar de não ser o melhor Hotel, acho que vale a pena em razão da excelente localização.

Assim que chegamos, deixamos as malas no quarto e já fomos andar pela cidade, pois nosso tempo era bem curto. Fomos andando pela Juderia até chegar ao Alcazar. Por conta das medidas de prevenção ao contágio da COVID-19, havia uma limitação da quantidade de visitantes diários aos monumentos da cidade. Além disso, só era possível a entrada com agendamento, realizado pelo site do Ayuntamento de Cordoba.

Não tínhamos certeza se chegaríamos a Córdoba a tempo de visitar o Alcazar. Por isso, não havíamos comprado ingressos antecipados nem feito nenhuma reserva. Como conseguimos chegar à cidade, nos instalar no hotel e caminhar até o Alcazar ainda a tempo de pegarmos o último horário de visitas, acabamos reservando nossa entrada lá mesmo, acessando o site pelo celular.

Havia um pequeno cartaz na porta avisando quanto às exigências e medidas para entrada, além de um QR Code para acesso direto ao site de reservas de ingresso. Reservado o ingresso no site, fomos direto até a portaria, onde fizemos o pagamento e já entramos no palácio.

O Alcázar em si é pequeno, mas os jardins são lindos. Posso dizer que, de todos que fui, eram os que estavam mais bem cuidados. Tudo limpo, as fontes lindas e as plantas muito arrumadinhas. Para fechar a visita com chave de ouro, o dia estava lindo. A luz dourada de um sol de outono tornou as cores ainda mais exuberantes.

Encerramos a visita à noitinha e saímos em busca de algum lugar para fazer um lanchinho, já que não havíamos almoçado direito. Por acaso, encontramos uma padaria fofíssima chamada Roma, onde comemos torta de maçã e um doce típico da região chamado pastel Cordobés, feito com massa crocante e recheado com doce de abóbora verde.

Terminado o delicioso lanchinho, voltamos para o Hotel, onde descansamos um pouco, afinal o dia havia sido bem corrido. Depois de umas horinhas, saímos para jantar e o escolhido foi o restaurante Damasco, um típico restaurante de comida libanesa no meio da Juderia.

A escolha foi certeira. O restaurante é lindo, muito aconchegante e bem decorado. A Comida estava perfeita e o atendimento foi espetacular. Pedi um pão recheado com carne, como se fosse um pão pita recheado com Kafta e Fellipe pediu arroz com frutas secas e cordeiro. Estava tudo muito bom.

Encerrado o jantar, fomos passear pela cidade à noite. Aproveitamos para tirar algumas fotos da Catedral-Mesquita. À noite a fachada iluminada do imponente edifício forma um lindo cenário bem no meio do bairro histórico da cidade. Vale muito o passeio.

De lá, fomos caminhando até a Ponte Romana, que por muito tempo foi a única ponte da cidade. Além de ser bem pertinho da Catedral, ela é muito bonita e bem no meio dela está uma estátua chamada Triunfo de São Rafael.

Uma dica especial é passear por lá à noite, já que a ponte fica ainda mais bonita toda iluminada. Caminhamos pela ponte, tiramos algumas fotos e voltamos ao hotel para descansar, afinal, o dia havia sido bem movimentado.

No outro dia, tomamos café da manhã no Hotel e fomos conhecer a Mesquita-Catedral de Córdoba, famosíssima pelo estilo peculiar e pelo grande tamanho. Havíamos comprado as entradas na noite anterior para evitar filas e foi um bom negócio.

Chegamos um pouco antes do horário marcado e aproveitamos para tirar fotos do exterior da Catedral-Mesquita e dos jardins, cheios de fontes e laranjeiras. Aliás, as laranjeiras são marca registrada da Andaluzia e, segundo informações obtidas lá, tem um significado de pureza.

Aqui uma confissão: eu havia sido avisada de que as laranjas, apesar de bonitas, não eram lá muito saborosas. Obstinada que sou, resolvi testar e, sorrateiramente, peguei uma para provar. O que posso dizer é que são mesmo uma enganação. De fato são lindas, mas o gosto é horrível. Então, fica a dica: não se iluda com as laranjas.

Voltando à visita, quando nosso horário chegou, fomos até a entrada e ficamos uns minutinhos em uma fila, organizada de acordo com os horários dos bilhetes. Depois de uns cinco minutos na fila, enfim, entramos.

Não sei se as fotos conseguem dar a dimensão do que é a Catedral-Mesquita, porque ela é tão impactante que parece não caber em imagens. De igual modo, também não cabe em palavras. Ver a Catedral por fora é algo que impressiona, mas entrar nela e ver a exuberância e delicadeza de todos os detalhes não tem explicação. É simplesmente espetacular.

As colunas coloridas, diferentes de tudo o que eu já havia visto, são lindas e, a todo instante, dão a impressão de que estamos em meio a uma floresta.

Ficamos algumas horas no interior admirando cada detalhe e depois retornamos ao Hotel para fazer o check out, já que já estávamos com as passagens compradas para Sevilha. Assim, um pouco antes da hora do almoço pegamos as malas e fomos para a estação de trem. No caminho paramos no Mercado Victória, onde tomamos um café.

Saímos de Córdoba perto do meio-dia, com aquele aperto no peito de quem não quer ir embora. Naquele momento eu já sabia que por mais que visitasse outros lugares, Córdoba já tinha lugar certo no meu coração.

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