Granada, retorno a Madri e a despedida da Espanha

O último destino da Andaluzia não poderia ser outro senão Granada. Como todas as demais cidades da região, ela é multicultural, absurdamente bonita e dona de algumas das paisagens mais estonteantes da Espanha.

Só para que fique claro, um dos monumentos mais visitados do país, a Alhambra, fica lá. Não bastasse isso, Granada está bem perto da Sierra Nevada, que se faz quase onipresente nas fotos da cidade. Olhando de longe, a impressão é que a cidade está aos pés da serra.

Além disso, não dá para ignorar que a cidade tem uma importância enorme para a região, inclusive, já foi a capital dos reinos mulçumanos Zirida e Nasrida, entre os séculos XI e XV, bem como do Reino de Castela, já depois da reconquista.

O fato é que, mesmo tendo perdido o título oficial de capital, Granada reina majestosa dentre as cidades da Andaluzia.

Chegamos à cidade por volta das 11 da manhã, depois de uma viagem de carro muito tranquila, saindo de Antequera. Fomos direto até o local de devolução do carro, pois as ruas estreitas e sinuosas do centro antigo de Granada pedem passeios à pé. Assim que devolvemos o possante, fomos para o ponto de ônibus, pois iríamos até nossa hospedagem usando transporte público.

Minha primeira imagem de Granada foi de um céu azul sem nuvens, gramado verdinho, árvores de outono e a serra nevada ao fundo. Poderia ser um sonho, mas era só a visão ao atravessar a rua.

Passado o momento de contemplação, chegamos ao ponto e, poucos minutos depois, já estávamos dentro do ônibus, que nos deixou bem pertinho da Catedral de Granada, quase em frente ao apartamento que havíamos reservado.

Confesso que um pouco da magia da cidade acabou se perdendo quando descemos do ônibus. É que a cidade estava fervilhando, ainda mais naquela parte central em que ficamos hospedados. Havia tantas pessoas, por todos os lados, que era até difícil conseguir andar pela calçada.

Depois de uma breve caminhada em meio à multidão, encontramos nosso apartamento e entramos. Rapidamente, deixamos nossas coisas e saímos para tentar aproveitar a tarde, que já se aproximava. Nossa intenção era andar com calma pelas ruas que vendem chás e especiarias, as teterias. Mas estava tão cheio que apenas passamos por lá rapidamente, já que entrar nas lojas era uma tarefa quase impossível.

Nós tínhamos pouco tempo em Granada, apenas dois dias e meio. Justamente por isso, estávamos decididos a tentar aproveitar ao máximo nossa visita. Assim, optamos por ir caminhando até a parte mais alta da cidade, explorando o inigualável bairro de Albaicín, considerado Patrimônio Mundial pela Unesco.

O caminho é lindo e qualquer rua em Granada é surpreendente. Mas não se enganem, as ladeiras não são nada amigáveis. Fomos subindo devagar, às vezes desviando um pouco dos outros turistas, e aproveitando para fotografar as icônicas fachadas e ruelas.

Depois de uma caminhada razoável, que se tornou mais cansativa em razão do aclive das ruas, chegamos até a Plaza Larga, um lugar bem badalado e um pouco pitoresco, com bares e restaurantes em volta. Já estava tarde e ainda não havíamos almoçado, a praça estava lotada e quase não haviam mesas disponíveis nos restaurantes e bares. Caminhamos um pouquinho em uma rua lateral e encontramos o simpático Reina Monica Tapas y Pintxos. O local era simples, mas a comida estava boa.

Depois do almoço, continuamos andando pela região, chegando até o concorridíssimo Mirador de San Nicolas, de onde se tem uma linda vista da Alhambra, a fortaleza ícone da cidade de Granada, que atrai milhares de pessoas todos os anos. A luz no momento das fotos estava espetacular e os tons de dourado destacaram ainda mais a beleza do lugar.

Ficamos por lá alguns minutos, tiramos algumas fotos e fomos descendo as ladeiras, prosseguindo nossa andança pelas simpáticas ruas da cidade enquanto apreciávamos o pôr do sol. Sem dúvida, um dos mais lindos que já vi. A cidade parecia banhada pelos raios de luz, que entravam pelas frestas das janelas e formavam um espetáculo de cor, contrastando com os telhados e destacando as inúmeras torres espalhadas.

Quando, enfim, chegamos de volta ao nosso apartamento, já estava anoitecendo e a rua estava consideravelmente mais vazia. Aproveitamos para ver melhor a fachada da catedral, que não estava mais tão concorrida. Estávamos tão cansados que nem saímos para jantar. Compramos algumas coisas no supermercado e fizemos nossa refeição no apartamento.

No outro dia, saímos cedo, tiramos mais umas fotos da catedral e tomamos café no simpático D’Sano. O lugar é uma graça e a refeição estava muito boa. De lá, seguimos até um ponto de ônibus e pegamos o transporte até a atração mais esperada: Alhambra!

Nosso ingresso estava comprado há algum tempo, mas ainda assim estávamos cientes de que haveria fila para entrar. Há que se fazer toda uma preparação emocional para visitar o lugar, que é sempre muito cheio e concorrido.

O fato é que visitar a Alhambra exige uma boa dose de paciência e planejamento. É preciso ter em mente que não se trata simplesmente de uma construção, mas de um enorme complexo, que formava a cidade palaciana dos Nasridas.

Basicamente, ela pode ser divida em três zonas: Generalife, Alcazaba e Palácios Nasridas. Na área Generalife estão os jardins, hortas e alguns palácios que eram usados para descansos dos reis. A Alcazaba é a área de fortaleza, onde está a Plaza de Armas e as torres. Já os palácios Nasridas são compostos por três áreas, sendo o Palácio de Mexuar, Palácio Comares e Palácio de Los Leones.

Para evitar surpresas, é bom comprar os ingressos com antecedência. Nós compramos diretamente pelo site oficial e foi bem simples. A única coisa que demanda atenção é se programar com relação ao horário de visita aos palácios Nasridas, que exige horário marcado.

Quando se compra o ingresso, marca-se apenas a hora de visitar os Palácios Nasridas. O restante da visita pode ser feito a qualquer momento. Essa informação consta repetidas vezes no site oficial e em qualquer guia sobre Alhambra, pois é comum que as pessoas se confundam e acabem achando que o horário é para entrar no complexo, quando, na verdade, é apenas para os palácios.

Nós começamos nosso passeio pelo Generalife e marcamos nossa visita aos palácios para o início da tarde. Essa área chamada de Generalife é enorme e conta com belos jardins, palácios e vistas lindas da cidade. Existem diversas fontes espalhadas pelo lugar, como costuma ocorrer em construções semelhantes, já que a água traz a ideia de purificação para os muçulmanos.

Nós encerramos a visita ao Generalife caminhando de volta ao Pavilhão de Acesso pelo Paseo de las Adelfas. Depois, passamos pela Medina, onde há ruínas de antigas casas mouras e saímos em uma simpática área aberta, uma espécie de praça, onde ficam o Palácio Carlos V e a Iglesia de Santa María de la Encarnación. Como já estava perto do nosso horário para os palácios, deixamos para visitar a Alcazaba no fim do passeio. Compramos alguns lanchinhos numa máquina próxima à Puerta del Vino e ficamos aguardando o nosso horário.

Uns dez minutos antes do horário marcado, uma fila foi organizada e, depois de conferirem nossos ingressos, entramos na parte dos palácios. É uma área imensa, com detalhes muito impressionantes, sendo alguns mais bem preservados que outros, até em razão da diferença de idade das construções. Alguns pontos merecem destaque, como o lindo Pátio de Los Leones, as paredes azulejadas e os tetos imponentes.

Além disso, o formato característico de portas e janelas, quase sempre emolduradas ou trabalhadas em arabescos também não passa despercebido. Aliás, despercebido é um adjetivo que não se aplica a Alhambra de modo algum. Portas decoradas, entradas de luz espalhadas por todos os lados, paredes ricas em detalhes e espelhos d’água não faltam.

Nossa visita aos palácios durou aproximadamente umas três horas, porque são muitas áreas para visitar e detalhes que impressionam. Não é um passeio de todo dia, então a missão é tentar aproiveitar o máximo. Encerrada a visita aos palácios, fomos andar pela Alcazaba, de onde se tem vistas lindas da cidade palaciana, do bairro Albaicín e das montanhas. De fato, é um conjunto e tanto.

Encerramos nossa visita no final da tarde, cansados de tanto andar, mas com aquela sensação boa de que havíamos aproveitado muito bem o nosso tempo. Da mesma forma que fizemos para subir, usamos o ônibus para descer e chegar ao apartamento. Ficamos por lá algum tempo e saímos para andar pelas imediações. Felizmente, havia um pouco menos de gente, então foi possível passear pelas lojas de chás e especiarias.

À noite, já imbuídos por toda essa cultura mudéjar, fomos jantar em um restaurante marroquino chamado Alhamra. A comida, apesar de extremamente condimentada, estava deliciosa e combinou muito com o clima do nosso dia.

Não sei se foi o local onde nos hospedamos, mas eu tive a impressão de que, das cidades da região, Granada é a que conta com influência mulçumana mais forte. Não apenas nas construções, mas roupas, lojas e músicas, tudo remetia ao Marrocos e países vizinhos. Aliás, há quem se aventure a fazer um bate e volta ao Marrocos, partindo de Granada.

Infelizmente, nossa passagem por Granada não era longa, então, no outro dia, já era chegada a hora de nos despedir. Claro que não se diz adeus a uma cidade dessas assim, de qualquer jeito. É preciso respeitar, se deixar levar e apreciar cada detalhe.

Com isso em mente, no nosso último dia acordamos um pouquinho mais cedo e fomos andar com tranquilidade pelas ruas que ficavam no entorno da catedral. O sol foi aquecendo nossa manhã e fomos nos preparando para partir.

Por volta das onze da manhã fomos até a estação de trem e, de lá, seguimos para Madrid, onde chegamos à noite. Mal deixamos as coisas no hotel, que ficava perto da estação, e já saímos para passear. Quando deixamos Madrid para seguir para a Andaluzia, no comecinho da viagem, as luzes de Natal ainda não estavam acesas. Para a alegria dessa criança que ama luzes, quando retornamos já estava tudo iluminado.

No dia seguinte, aproveitamos que nosso vôo sairia apenas à noite para dar um último passeio pela capital espanhola. Fomos à pé do nosso hotel, próximo à estação Atocha, até os entornos do Palácio Real de Madrid, pois queríamos passear pela Plaza de Espanha, que estava fechada para reforma na primeita etapa da nossa viagem. Para nossa sorte, a reforma havia terminado e a Plaza estava aberta, o que possibilitou uma agradável caminhada pelo local, com direito à foto do monumento a Cervantes.

Além disso, parte da Plaza estava totalmente imbuída pelo espírito natalino, com pista de patinação no gelo e o encantador mercado de natal. Não poderíamos ter um fim de viagem melhor.

Está aí uma boa razão para visitar a Europa no início do inverno. As luzes de Natal aquecem a alma e coração, deixam tudo mais vibrante e cheio de significado. Nossa aventura por uma Espanha diferente do que eu imaginava chegou ao fim, com a certeza de que não foi a última vez.

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