Holanda – Canais, moinhos e tulipas…

Encerramos nossos dias na Bélgica e seguimos para a Holanda. Ao invés de fazer esse percurso de trem, como fizemos nos outros deslocamentos, fomos de avião, já que o transporte entre os países da nossa trip foi comprado em uma só reserva, em uma promoção da KLM. Nossa chegada à Europa foi por Paris e a saída seria por Amsterdam.

Chegamos à Holanda ao entardecer e a primeira coisa que me vem à mente quando penso no dia da chegada é a cor da estação de trem. A fachada acobreada com molduras douradas ficava ainda mais deslumbrante com a luz do sol. Os primeiros minutos na cidade já mostravam que os próximos dias seriam intensos e inesquecíveis.

Já no caminho para o hotel me encantei pelas casinhas com tijolos à vista, iguais e diferentes ao mesmo tempo. E como não prestar atenção aos canais? Ah, os canais… Impressionantes. Só não mais que o mundo de bicicletas que se amontoam em todos os lugares. Aliás, bicicletas, tulipas, canais e casinhas simpáticas não faltam na Holanda.

Todos os detalhes a gente descreve neste post, que conta um pouquinho dos nossos dias por lá e em cidades vizinhas, igualmente encantadoras.

Chegamos a Amsterdam pelo aeroporto de Schiphol, principal aeroporto da Holanda, e fomos, de trem, até a Estação Central (Amsterdam Centraal). De lá, pegamos um Uber, que nos deixou na porta do Hotel Linden, reservado com meses de antecedência. Fizemos o check in sem problemas, conhecemos o hotel e deixamos nossas coisas no quarto.

Por falar em hotel, o Linden é um capítulo à parte na nossa estada em Amsterdam. É um hotel bem pequeno, mas muito bonito. Fica em um bairro muito gostoso chamado Joordan, que é residencial, mas tem restaurantes e bares bem bacanas. Apesar de não estar no centro da cidade, é relativamente perto de tudo e é tão gostoso andar por lá que a distância realmente fica pequena.

O quarto em que ficamos, em que pese ser pequenininho, era bem confortável. Recebemos duas garrafinhas de água de cortesia, para levar e reabastecer durante nossos passeios, já que a água da torneira é potável por lá. No quarto, além da água, havia biscoitos e chás. Tudo muito caprichado.

O café da manhã, não incluído na diária, era bom e o preço era justo, compatível com o que era oferecido. Mesmo para quem não fosse tomar café lá, chás, chocolate quente e café eram cortesia, durante todo o dia. Assim como biscoitos e docinhos, sempre disponíveis na recepção.

Enfim, o Linden ganhou nosso coração pelas pequenas coisas. Funcionários gentis, solícitos e atenciosos. Localização excelente para nosso estilo de viagem, preço justo e conforto na medida.

Voltando aos passeios, depois de guardar as bagagens saímos para conhecer a vizinhança. Já estava um pouco tarde e não tínhamos reserva para jantar. Primeira coisa sobre Amsterdam: as pessoas jantam muito cedo ( e suspeito que deva ser assim no restante da Holanda também). Havia lido sobre isso e chegando lá o recepcionista do hotel nos alertou. Às nove da noite os restaurantes estão fechando.

Saímos meio sem destino, com fome e um pouquinho de frio. Queria jantar, mas também queria parar em cada esquina para fotografar tudo. Escureceu e ainda estávamos zanzando pelo bairro, sem reservas e, obviamente, sem comida.

A fome apertou e fomos até um restaurante que era bem avaliado pelo Tripadvisor. Infelizmente não havia vaga. Na volta para o Hotel, já meio desiludidos, paramos em uma pizzaria chamada La Perla para tentar conseguir uma mesa. Por sorte conseguimos. Fomos encaixados entre dois horários já reservados. O local estava bem cheio, mas nossas pizzas não demoraram a chegar. Estavam excelentes, assim como as cervejas.

Saímos de lá e voltamos para o hotel. Aí sim fomos desfazer as malas e revisar o planejamento dos próximos dias, que incluía muitas caminhadas, parques e atividades culturais.

O dia 14/04 começou cedo para nós. Tomamos café no hotel mesmo e fomos fazer uma caminhada pela cidade, que passa por diversos pontos interessantes, inclusive pela casa de Anne Frank. Essa caminhada foi inspirada em um post do Ricardo Freire, do Viaje na Viagem, em que ele detalha bem certinho o percurso.

Por conta da localização do nosso Hotel, mudamos um pouco a ordem dos pontos e começamos pela casa de Anne Frank. Esse era um dos passeios imperdíveis para mim. Já li o livro e assisti ao filme sobre a vida da garota judia que viveu os horrores da guerra, enclausurada em um esconderijo com a família.

Justamente pela importância disso para mim, os ingressos para conhecer a casa onde ela e família se refugiaram foram compramos com uns sessenta dias de antecedência, assim que disponibilizados, através do site do museu.

Chegamos ao local e depois de alguns minutos na fila, entramos na casa e começamos o passeio. Pelos cômodos espalhados entre os andares do prédio, a história que eu já conhecia tão bem pelas leituras, feitas mais de uma vez, foi se tornando palpável.

É possível acompanhar as informações através de áudio guias, que detalham muito bem o contexto das fotografias, notícias de jornal e informações diversas, quase todas contemporâneas à época em que Anne ficou na casa. Há áudio guias em português, e já estão incluídos no ingresso.

É um passeio muito interessante. Lógico que é um pouco pesado, porque nos remete às brutalidades e horrores da guerra, nos lembram da falibilidade humana e da miséria de todas as ideias de segregação. Ainda assim, ou talvez por isso mesmo, vale muito à pena, até para quem não é assim tão envolvido com a narrativa do livro.

Digo isso porque o Fellipe não havia lido o livro e ainda assim aproveitou bastante o passeio. Uma coisa é saber que um grupo de pessoas, alguns desconhecidos entre si, ficaram mais de dois anos em um esconderijo, sem sequer ver a luz do dia. Outra coisa é entrar nesse lugar, minúsculo, escuro e triste. Realmente, imperdível.

Demoramos mais ou menos uma hora e meia na visita. Depois continuamos a caminhada por diversos outros pontos da cidade, passando pelos canais e suas pontes absurdamente fotogênicas. Paramos para almoçar em um restaurante chamado Escape Caffé, que não estava nos planos, mas acabou sendo um bom ponto de descanso. Comemos um hamburguer e um bolinho de batata (bitterballen), que é bem comum por lá.

Saímos de lá e continuamos a caminhada, passando pelo mercado de flores (Bloemenmarkt) e por vários pontos interessantes do centro da cidade. No final, paramos em uma famosa lanchonete chamada Winkel 43, onde comi a melhor torta de maçã da vida.

O lugar é bem simples, mas vive lotado. Depois de provar a torta, dá para entender a fama. A torta deles é simplesmente perfeita. Comemos e voltamos para o hotel para descansar, afinal o dia havia sido cheio.

Desta vez eu já estava mais esperta, então reservei de manhã o restaurante onde queria jantar (dá pra fazer pelo site deles). Escolhemos o Cafe Sonneveld, o mesmo em que havíamos tentado ir na noite anterior. Ele ficava bem perto do hotel, coisa de dez minutos de caminhada.

Chegamos lá e nossa mesa estava prontinha. Nos acomodamos e pedimos duas cervejas. Em seguida escolhemos nosso jantar. Não me lembro bem o nome do prato que pedi, mas basicamente era carne de porco com molho de cogumelos. Gente do céu. O que era aquela comida? Boa, mas tão boa, que não consigo nem descrever. Saímos de lá, na maior alegria, pela comida e, claro, pela cervejinha, e voltamos para o hotel.

No outro dia saímos cedinho e tomamos café em um lugar fofinho, chamado Piqniq. Um misto de confeitaria e lanchonete, com decoração agradável e um gato, de verdade, muito amistoso. Nosso café foi delicioso. Não podíamos começar melhor nosso dia.

Continuado nossa programação, fomos até o Museu Van Gogh, cujos ingressos também já estavam comprados com antecedência. Passamos a manhã por lá, pois o acervo é imenso e a visita é muito rica culturalmente, então não dá para dar só uma passadinha. No museu, existem áudio guias disponíveis, inclusive em português, mas são cobrados à parte.

Para aproveitar melhor a visita, resolvemos contar com o áudio guia, que é bem interessante e torna mais proveitoso o passeio, afinal de contas, sem uma explicação, é bem difícil compreender a essência de algumas das obras, ainda mais em se tratando do misterioso Van Gogh.

Saímos do Museu por volta das 13h e fomos até um supermercado nas proximidades, o Albert Heijn, onde compramos comida japonesa e frutinhas prontas para o consumo. Resolvemos fazer nosso lanchinho no gracioso parque que fica pertinho do Museu, o Parque Museumplein. Estava um dia bem gostoso, então ficamos algum tempo por lá.

Vários dos mais importantes museus da cidade ficam em volta deste parque, que tem um enorme gramado onde as pessoas costumam aproveitar o sol e relaxar um pouco. Acabamos não entrando no mais famoso museu do parque, o Rijksmuseum, onde estão várias obras de arte da Holanda, mas aproveitamos para conhecer seu jardim e ver seu belo prédio.

De lá, fomos caminhando para o Voldenpark, uma imensa área verde no coração de Amsterdam, com locais para caminhada, para andar de bicicleta, isso sem contar os lagos e belas paisagens. Embora não tivéssemos planejado nenhuma atividade específica no parque, o lugar é ótimo para sentir bem o clima da Holanda.

Ficamos boa parte da tarde por lá, conversando enquanto a vida acontecia. Em cada cantinho do parque uma descoberta encantadora. Entre pássaros e tulipas, é fácil perder a noção do tempo. Bem por isso, acho mesmo que este não é um passeio que possa ser aproveitado na correria. Exige tempo e desprendimento, mas vale muito à pena.

Depois de algum tempo no parque, fomos até o Heineken Experience, onde fizemos um tour pela antiga cervejaria, que hoje é apenas parte da história da marca. O passeio é bem longo e um pouco demorado e termina, como é de se esperar, com uma cerveja bem gelada. Não gostei muito do passeio, mas dava para perceber que a maior parte das pessoas curtiu. Há alguns brinquedos interativos que fazem bastante sucesso com os visitantes, e um guia acompanha o início do passeio narrando a história da cervejaria, que se mistura com a história da família e da cidade.

Voltamos para o hotel e antes de chegar resolvemos parar para jantar. Na noite anterior havia visto um restaurante argentino (Luna) que chamou muita atenção. Decidimos ir lá para testar e foi uma excelente escolha. O ambiente é bem a cara da Argentina. Colorido, espalhafatoso e caliente. Estava tudo uma delícia.

No dia 16/04 fizemos mais uma série de passeios urbanos. Começamos pelo centro de Amsterdam, conhecendo a Dam Square, importante praça da cidade. Depois fomos a um mercado de rua muito bacana (Albert Cuyp Market), que tem de tudo, desde comidas típicas até sementes de maconha e tamancos.

Durante nossa caminhada pelo mercado comemos sanduíches de frango e depois experimentamos o biscoito símbolo da Holanda, o stroopwafel. Já estávamos redondos de tanto comer, mas passamos por uma barraca em que uma senhora vendia umas mini-panquecas tão fofinhas que tive que parar e provar (depois descobri que se chamam poffertjes). Quem resiste a panquequinhas assim?

Depois de andar bastante pela feira de rua, retornamos ao parque Voldenpark, pois queríamos tentar algumas fotografias com outra luz. Ficamos por lá algum tempo e quando o sol estava começando a se por, voltamos para o Hotel, dando uma paradinha no restaurante Pier 62, onde comemos fish and chips.

No dia seguinte havíamos planejado ir ao Keukenhof, famoso parque de tulipas, e um dos pontos turísticos mais visitados da Holanda. Ele fica em Lisse, uma cidadezinha bem perto de Amsterdam. Para facilitar nossa vida, havíamos comprado os ingressos que davam direito ao transporte até o parque.

Apesar de um pouco confusas as informações, por conta de uma mudança ocorrida depois que já havíamos adquirido, após um bom café da manhã no Kessens, conseguimos nos achar e saímos de ônibus de um ponto relativamente perto do hotel.

Seguimos nesse mesmo ônibus até uma outra parada, onde ficamos algum tempo aguardando o outro ônibus, que nos levaria até o Parque. Estava um frio danado e ficamos uns bons minutos esperando o transporte. O dia estava um pouco nublado e continuou assim no decorrer da tarde.

O parque é imenso, muito, mas muito bonito. As flores são encantadoras e realmente parecem de mentira, tamanha a variedade de formatos e cores. O parque estava bem cheio, mas não há muito como fugir disso, pois ele fica pouco tempo aberto durante o ano, então a visitação é sempre concorrida.

Não posso dizer que foi meu passeio favorito na Holanda, porque prefiro viver a vida de verdade. Acho esse tipo de passeio muito fabricado, mas para uma primeira visita à Amsterdam, é praticamente obrigatório. No Parque há bastante opção de atividades para crianças, inclusive uma mini fazendinha, com cabras, galinhas e coelhos.

É importante lembrar que o parque fica aberto por um período bem curto anualmente, apenas na primavera, e sempre está cheio. Contudo os ingressos não possuem data marcada, então não é preciso muita antecedência na compra.

Tem algumas opções bacanas de passeios de bicicleta pelos arredores, que me parece ser algo mais autêntico. Infelizmente não fizemos, porque não havíamos planejado e em cima da hora é praticamente impossível arrumar uma vaguinha. Chegamos até a olhar no site no dia anterior, mas não havia vagas nem pelos próximos dias.

O parque não tem só tulipas, mas centenas de outras espécies de plantas e toda a região em torno tem imensas plantações de flores, que você já vê de dentro do ônibus, no caminho até lá. Pelo que li, aquele pedacinho da Holanda é um dos maiores produtores de flores do mundo.

Saímos do parque à tarde e, na volta para o hotel, paramos em uma Brasserie chamada Groot para jantar. Comi um hamburguer e o Fellipe uma massa. Estava tudo bem gostoso e o preço era bem condizente com o que eles ofereceram. Terminamos a refeição e seguimos para o hotel, caminhando entre os canais.

Nosso último dia na Holanda foi destinado a passear pelos moinhos, em um parque chamado Zaanse Schans, que fica em uma cidade linda, Zaandam, a uma curta viagem de trem de Amsterdam.

Chegamos na cidade na hora do almoço e, da estação, caminhamos até o parque, que não fica muito longe. No caminho, paramos em uma simpática boulangerie (Warme Bakker), onde compramos deliciosos sanduíches para o nosso almoço.

Muita gente acha que esse passeio é muito voltado para turistas e coisa e tal. Mas eu curti demais. Achei uma graça. O lugar é lindo, muito bem cuidado, com espaço de sobra para caminhar e curtir a paisagem. Os moinhos são fantásticos e apesar de terem sido levados para lá em uma espécie de figuração, mostram muito bem como era a utilização na época em que realmente eram imprescindíveis, drenando a água de boa parte do território da Holanda, que fica abaixo do nível do mar.

O melhor de tudo, é um passeio praticamente gratuito, afinal é um parque aberto. A única despesa é com o transporte até lá. Ah, outra coisa bem legal do parque são as lojas de produtos típicos, como queijos e sapatos, sem contar os pequenos museus que funcionam dentro dos moinhos. Enfim, tem atividades para todos os gostos. Como se não bastasse, você ainda pode se divertir com os simpáticos bichinhos que ficam por lá, como ovelhas, cisnes e patos.

Passamos boa parte do dia por lá, andamos pela cidade e voltamos para Amsterdam à noite. Mais uma vez jantamos no Sonneveld, para fechar com chave de ouro nossa passagem pela Holanda. Para variar, a comida, a cerveja e o atendimento foram excelentes. Desta vez, mesmo sem reserva, conseguimos um lugarzinho, em uma mesa na calçada, para aproveitar nosso último jantar em Amsterdam.

Ah, uma coisa bem importante: não deixem de provar os queijos típicos da Holanda. Se você, como a gente, curte passear em supermercados, Amsterdam é um prato cheio. Não só a parte dos laticínios é impressionante, mas os chocolates também. Vale a pena deixar um espacinho na programação para descobrir os sabores desse lugar da forma mais autêntica possível, exatamente como os locais.

Leitores mais atentos devem estar se perguntando: e a promiscuidade de Amsterdam? Afinal a cidade é famosa pelos canais e bicicletas, mas também pelos coffeshops, que não vendem café, mas maconha e derivados, e pelas prostitutas, que ficam expostas em vitrines.

Sim. Amsterdam realmente tem uma política bem tranquila em relação ao uso de maconha e quanto à prostituição, que é legalizada e regulamentada. Mas uma política tranquila não quer dizer que a cidade seja uma balbúrdia. Muito pelo contrário, as regras são muito rígidas.

Em Amsterdam é permitido usar maconha e produtos derivados nos coffeshops, espalhados pela cidade e vistos com muita naturalidade pelos moradores. Quem fica meio deslumbrado com isso são alguns turistas desavisados. Quanto à prostituição, há um bairro específico, conhecido como Distrito Vermelho, onde as moças e rapazes ficam em vitrines, para que o cliente escolha. Falando assim parece um pouco chocante, mas é bem mais tranquilo que alguns locais no Brasil, onde as pessoas se submetem a todos os riscos nas ruas para tentar ganhar dinheiro com a prostituição.

Tanto uma situação quanto a outra existem e não parecem causar problemas por lá. Talvez pela questão cultural ou porque isso não gere influência negativa na qualidade de vida da população. De forma alguma isso quer dizer que aqui na Terra Brasilis isso funcionaria, porque, nem para um lado nem para o outro, radicalismo ou liberalismo, a solução que funciona para um país se encaixa em outro.

O fato é que, apesar da fama por conta das drogas e prostituição, não é isso que mais chama atenção da cidade, ao menos para mim. Existe tanta, mas tanta coisa maravilhosa para se fazer por lá. As pessoas são tão amáveis, os lugares tão lindos, a vida cultural é tão intensa e a energia é tão contagiante, que esses detalhes nem fariam diferença. É um lugar que vale a pena ser visitado. E revisitado.

De tudo o que vivemos no pouco tempo em que estivemos na Holanda, fico com a sensação de sentar na calçada, de olhos fechados enquanto o vento bate no rosto…em uma tarde ensolarada, com tulipas multicoloridas no entorno, entremeadas com bicicletas e gente naturalmente feliz.

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1 Resultado

  1. Elizene disse:

    Lindoooo perfeito

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